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Normal People: é sobre você

Tava pra assistir Normal People há tempos, por se tratar de uma adaptação do livro homônimo da autora que já é aclamada como a voz da geração millennial, Sally Rooney. Escolhi um dia bem anêmico e insosso pra começar, desses que pedem uma distração. Me ajeitei na cama, controlando as altas expectativas, e em poucos minutos já me foi revelado o teor poético da narrativa. Foi o que bastou. Iniciei a partir de então um desmedido investimento de suspiros e arrepios de identificação. 

A premissa da história é simples. Nós temos Marianne (Daisy Edgar-Jones), uma jovem solitária e excêntrica oriunda de família rica que cruza seu caminho com o de Connel (Paul Mescal), o cara popular da escola que, além de colega de classe de Marianne, é também filho da funcionária da mansão onde a garota mora. Os dois, em uma aproximação desajeitada e encontros rápidos, excedem o coleguismo e percebem um ao outro. Eles se olham demoradamente, com o interesse genuíno perceptível na linguagem corporal. A relação progride para algo mais consistente e significativo, mas permanece em segredo. Desse momento em diante, a história acompanha os encontros e desencontros do casal desde o colégio até o fim da faculdade. 

Nesses encontros e desencontros que apresentam problemas comuns à qualquer relação, é que o monstro da identificação ataca. Muitos de nós se reconhecem na imaturidade do primeiro amor. Aquele amor inseguro, deficiente na expressão verbal, que combina inquietações abstratas com prazeres palpáveis. Um amor íntimo, mas desprevenido. Despreparado. 

O que comove profundamente, no entanto, não são os acontecimentos que atravessam os protagonistas, mas sim a forma como ambos lidam com eles. Existe uma ligação intensa e forte entre os dois, mas existe, paralelo a isso, a jornada individual que os levam à discordantes interpretações sobre aquela relação. Até mesmo o silêncio, tão presente, é lido de forma diferente por eles. 

E aí você quer chorar (e você vai!) e implorar de joelhos para o casal com o qual você se sente bizarramente íntimo, que verbalizem suas respectivas emoções, cuidem dos traumas, entendam seus padrões de comportamento que persistem no mútuo magoar e finalmente imprimam no outro um sentimento de pertencimento mais ameno e dócil. 

Mas Normal People não cede ao clichê e, portanto, não se curva aos nossos clamores apaixonados fundamentados numa ideia de amor romântico cafona e ultrapassada. A série vai além, encontrando a razão de ser no profundo das emoções, de maneira tal que não me parece possível elencar um sentimento que unifique seu impacto em mim. A série me foi uma tremenda de uma sinestesia. 

É bonita, sensível, inteligente. É real. É bonita porque é real. Talvez até simples. Mas não há nada de óbvio na simplicidade de Normal People, porque não há nada de óbvio sobre nós.

 

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