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Qual o seu auge? 

Dois fatos recentes me sensibilizaram bastante.

O primeiro foi a fala de três universitárias paulistas ridicularizando uma colega mais velha, de 45 anos, em uma rede social: “Como ‘desmatricula’ um colega de sala?”; “Gente, quarenta anos não pode mais fazer faculdade!”; “Era para estar aposentada”.

Três dias depois, quando ainda ressoava a minha indignação, a Academia de Cinema de Hollywood entregou o Oscar de Melhor Atriz a Michelle Yeoh, sessenta anos. Em seu discurso, a protagonista de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” manifestou-se de forma enfática contra o etarismo, preconceito baseado na idade: “Senhoras, não deixem ninguém dizer que vocês já passaram do seu auge”.

Lembrei-me então do meu ingresso “tardio” na faculdade de Jornalismo. Eu era colega de sala da minha filha. Afora pequenos incidentes, não sofri discriminação por parte de jovens colegas, nem de professores (eu era mais velha que a maioria desses). Exceção à regra? Tomara que não. Acredito que tive a sorte de estar em uma universidade que valoriza a diversidade. A prova disso é que sou convidada correntemente para conversar com estudantes sobre a minha trajetória jornalística e literária.

Você leu “literária”? Pois é, não bastasse ter me formado jornalista após os cinquenta anos, tornei-me também escritora. Já são cinco livros publicados – o sexto em fase de criação –, um deles finalista Jabuti, o prêmio literário mais tradicional do Brasil.

Preconceito é algo a ser combatido todo bendito dia com autocrítica e humildade. Vivemos tão presos a estruturas arcaicas que não percebemos o estrago de declarações do tipo: “Não sou racista, tenho muitos amigos negros”; “Não sou homobófico, tenho muitos amigos homossexuais”. Se quisermos um mundo melhor e mais tolerante, a primeira providência é admitirmos as nossas regalias e repelirmos os próprios preconceitos.

Não mais afirmarei que sou uma jornalista-escritora “tardia” por ter estreado fora da idade convencional. Patrícia Linares, a caloura paulista, rebateu a discriminação das colegas: “Não desista do sonho, porque é ele que nos move”. Como destacou Michelle Yeoh, ninguém pode determinar o nosso auge.

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