Fortaleza, CE
contato@muraldaanapaula.com.br

4 filmes nacionais para brindar o cinema brasileiro

 

Alvo de críticas vazias e muitas vezes desonestas, o cinema nacional vive e se revela cada vez mais grandioso e digno de notoriedade. Hoje, 19 de junho, comemora-se o Dia do Cinema Brasileiro, data que tem o intuito de saudar as produções audiovisuais do país. O Mural não poderia ficar de fora desta homenagem e, por isso, separamos uma lista de filmes brasileiros para celebrar a data. 

  1. AQUARIUS (2016)

De um lado, uma construtora grandiosa objetivando a destruição do edifício Aquarius, situado na praia de Boa Viagem, Recife. Do outro, Clara, viúva de 65 anos e a última moradora do prédio que se recusa a vender seu apartamento. 

Kleber Mendonça Filho, diretor e roteirista do filme, nos entrega uma história contemplativa, forte, delicada e repleta de camadas que refletem sobre a imposição do novo sobre o velho, as sensibilidades da velhice e, principalmente, os estados e a importância da memória. 

Na pele da protagonista, Sônia Braga desempenha uma performance magistral. É de encher qualquer par de olhos de um arrebatamento ímpar sua propriedade e excelência na interpretação. A relação de afeto que Clara tem com o apartamento – personagem muito vivo no filme – é marcada por sutilezas que evidenciam a grandiosidade da atriz. 

Com o alto nível na qualidade técnica e roteiro contundente, Aquarius ganhou aclamação internacional e é unanimidade da crítica. Dentro da sua originalidade, o filme oferece reflexões, questionamentos e emoções das mais simples às mais complexas.  Aquarius é, sobretudo, um brinde à resistência.

  1. QUE HORAS ELA VOLTA? (2015)

Regina Casé interpreta Val, uma mulher doce que trabalha há 13 anos para uma família de classe média alta em São Paulo e dorme na casa dos patrões. Eis que sua filha, Jéssica (Camila Márdila), vai morar com ela para prestar vestibular na cidade e sua chegada provoca desassossego na hierarquia de classes do ambiente e desperta conflitos. 

Escrito e dirigido por Anna Muylaert, Que Horas Ela Volta imprime com extrema sinceridade a diferença de classes e como a problemática é vivenciada no Brasil. A narrativa é muito bem construída por um discurso potente e preciso. As atuações são comoventes e revelam o talento puro do elenco, com destaque especial para Regina Casé e Camila Márdila que impressionam nas sutilezas. 

O drama está muito bem cravado na estrutura das cenas, nas metáforas visuais e na postura dos personagens. É um longa inteligente e necessário. Um emblemático retrato da sociedade brasileira. 

  1. O PERFUME DA MEMÓRIA (2016)

Baseado na música homônima de Oswaldo Montenegro, O Perfume da Memória conta a história de amor entre duas mulheres cuja colisão de personalidades divergentes leva à intensa e inevitável paixão. 

Laura (Amandha Monteiro) está vivendo a noite do seu aniversário em meio ao luto de um término de relacionamento recente quando Ana (Kamila Pistori) surge em sua porta decidida a conhecê-la. Esse é o encontro que dá início à trama que se desenrola em desencontros e descobertas fascinantes. 

Ambientado praticamente em um único local, o longa aposta em diálogos íntimos e intrigantes que arrebatam pela sensibilidade deleitável. Acompanhando o aprofundamento da conexão entre as protagonistas, a trilha sonora atravessa a história e nos envolve em uma atmosfera inebriante onde arte, poesia e desejo estão por toda parte.  

O Perfume da Memória é um poema de uma hora e doze minutos de duração. 

  1. A VIDA INVISÍVEL (2019)

Adaptando o romance “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão” da escritora Martha Batalha, o filme que narra a história de duas irmãs que têm as vidas sufocadas pelo patriarcado me deixou com uma frase da Simone de Beauvoir ecoando na mente enquanto os créditos rolavam: “O mundo sempre pertenceu aos machos”.

Ambientadas no Rio de Janeiro da década de 50, Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler), separadas pelo pai na juventude, são constantemente impedidas por homens de viverem plenamente suas vidas. Euridice, mais comedida, submete-se mais facilmente às convenções sociais. Guida, por outro lado, é expressiva em seus impulsos de desobediência à sociedade machista. Há, entretanto, acima das diferenças e desencontros, o afeto. 

A direção de Karim Ainouz assume um tom melodramático, perceptual e refinado estruturado em uma linguagem muito rica e honesta. Nas camadas mais superficiais, o longa trata da natureza violenta do patriarcado. Nas mais profundas, estabelece reflexões sobre temas como o vazio, traumas, dor e melancolia. 

O desfecho da história vem com a participação da indescritível Fernanda Montenegro em uma cena que marca o ápice da carga emocional que a trama carrega. 

É um daqueles filmes desconfortáveis e indispensáveis. Esteja preparado para recebê-lo.

Outras produções excelentes: Central do Brasil (1998), Bacurau (2019), Cidade de Deus (2002), O Som ao Redor (2013), O Céu de Suely (2006), Ilha das Flores (1989), Estômago (2008), Tatuagem (2013). 

Em tempos em que a ignorância ameaça a cultura, o cinema brasileiro merece e precisa do nosso apoio e incentivo. Não deixe de conhecer, sentir e viver o cinema nacional. 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *