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10 minutos no alpendre

 

 

 

A água em meu corpo estava reduzindo, eu deveria estar no quinto copo de tequila, sentia-a  queimando em minha garganta abaixo e já começava a cambalear pelos corredores da festa. Era um calourada da faculdade e todo mundo estava. Eu era novato, o que significava que eu tinha que estar ali, mesmo não querendo.A pressão humana me deixava desconfortável e eu só pensava em tomar um pouco de ar. Quando, finalmente, consigo me afastar da multidão e de todo aquele abafado som da sala, é como se minha cabeça conseguisse pela primeira vez alcançar paz interior. Eu precisava aproveitar o máximo que eu pudesse, pois já haviam notado meu sumiço e eu já escutava pessoas chamando meu nome.

Em meu momento particular, descubro que não estou sozinho. Na parte escura do alpendre em que me sento, está escondido um refinado rapaz, fumando um Hollywood e fumegando todo o seu charme para mim, ao vê-lo, pergunto a mim mesmo se poderia ser amor. PODERIA SER AMOR? Minha presença não é perceptível de primeira, sou irrelevante demais para ser notado, mas desastrosamente espirro e aí compro a atenção do outro festeiro isolado, ele é gentil, me oferece um cigarro e eu sou rude, digo que não fumo, ele sorri e eu me encabulo.

Sorte minha, não estar sóbrio. Se estivesse, teria saído e não trocaria uma palavra com ele, o que seria ainda mais rude da minha pessoa, mas o álcool nos fornece essa aura, de sermos quem não somos, ou melhor, de sermos quem nós realmente somos, porém a parte que ofuscamos do mundo por medo de sermos repudiados. Ele fala um pouco de si, é um músico, isso significa que é um poeta, fala melodiosamente bem, não tenho muito há falar sobre mim, sou um fracassado do amor, posso ser um idealizador do sentimento. Já passei por inúmeras decepções e essa é só mais uma, então só o ouço e concordo com o que ele tem a dizer, no final das contas, sou um ótimo ouvinte.

Enquanto fala, o observo com muita perspicácia, como um ser humano que passará 5 longos dias sem comer e tem ao seu ver, um pequeno fruto. Ele usa um óculos que o faz parecer bem mais velho do que eu, e de fato é, mas não tanto. Seus beiços são rosados e carnudos, e seus olhos hipnotizam qualquer um, assim como os quadros Keane. Conheço-o há dez minutos e minha cabeça já está perdida, afundando em um poço de ilusão, por conta da gentileza de um indivíduo que conheci a pouco tempo. A culpa é minha, disso tenho certeza, nunca consegui me relacionar com alguém, por ser emocionalmente fraco e pela minha falta de confiança, que transparece em meu rosto e me permite desistir. Sim, a desgraça fora antecipada, antes de acontecer.

Diante de meu auto julgamento. Surge uma garota, uma jovem loira de olhos insignificantes que o abraça. Era o ápice, assim teria chegado meu momento, mais uma vez, afundando no poço de mara, o oposto da iluminação, a ilusão, com um grilhão amarrado em cada perna minha. Por que estou surpreso? Estaria eu, fadado a fortaleza da solidão?

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