Fortaleza, CE
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Notas sobre Messejana

 

 

“Em mil seiscentos e três. Tempos de notícias raras. Já estavam os potiguaras. Nessa terra prometida. Vieram de terra estranha. Muito além da montanha. E adotaram esse chão. Quando aqui tudo era verde. Não havia fome nem sede. Nem patroa nem patrão. Naquele tempo distante. Onde tudo era bonito. Desde o azul do infinito. Até o verde das plantas”, diz o poeta Edmar Freitas no livro “Poemas de Amor a Messejana” (2010).

A memória do lugar, terra do escritor José de Alencar e de Dom Hélder Câmara, vive e resiste. Messejana, distrito e bairro da capital cearense, tem um valor histórico inestimável. E sua lagoa, a segunda maior de Fortaleza, testemunhou a vida em seu entorno. Suas margens acolheram os povos indígenas potiguaras, jagunços, sertanejos, visitantes e moradores.

Segundo relatos dos navegadores colonizadores de 1600, no local onde seria hoje este bairro, habitavam o povo potiguara. Depois, o que se sabe é que, ao pararem de uma jornada do Ceará rumo ao Maranhão, padres jesuítas estiveram no aldeamento denominado Paupina – nome atual de uma das localidades que formam a Grande Messejana.

Os jesuítas foram os responsáveis pela sua urbanização. Ao fugirem da superlotação das zonas litorâneas e valorizadas, fundaram, por volta de 1690, a aldeia da Paupina. Construíram a primeira capela neste território, posteriormente elevada à categoria de paróquia. Tal estrutura é a base da atual Igreja Matriz. 

> Em 1760, foi criada a Vila de Messejana. Tal fato lhes resguardou autonomia administrativa a partir de então.

> José de Alencar nasce em maio de 1829 em Messejana, que à época gozava do estatuto de município.

> O Cemitério Público de Messejana, o mais antigo de Fortaleza, foi inaugurado em 1836.

> Dom Hélder Câmara, Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos, nasce em 1909.

> Em 1921, Messejana sofreu uma modificação que ecoa até a atualidade. O então governador do Estado do Ceará, Justiniano de Serpa, rebaixou o título de município à categoria de distrito, este anexado ao município de Fortaleza.

Messejana teve importante função econômica para o Estado, tornando-se via de escoamento de gado na época da carne do sol e charque. Mais tarde, esta foi uma das vias significativas para o escoamento de algodão trazidos da região Jaguaribana e do Sertão Central.

Segundo Felipe Neto, no livro “Muito Além dos Muros do Forte” (2010), “a extinção do município de Messejana está ligada, principalmente, às dificuldades enfrentadas pelas cidades que não se caracterizavam pela forte atividade produtiva e comercial” (p. 18). 

De acordo com o autor, Fortaleza, capital do Ceará, toma as rédeas do processo de comercialização de produtos e passa a ser centro vital do cotidiano cearense. Messejana aparece como aldeamento de povos indígenas que ascendeu à condição de vila, recebendo incumbências administrativas – mas convivendo com a ascendência nativa da relação com o aspecto rural de sobrevivência.

Até pouco tempo, Messejana, apesar de vizinha da capital, mantinha sua estrutura prioritariamente agrária – com a existência de sítios produtores. Fortaleza, no entanto, buscava se assemelhar às cidades europeias, como Paris. Podemos citar aqui, por exemplo, o período conhecido por Belle Époque.

Já agregada a Fortaleza, “o distrito passa a sentir a presença urbana com mais evidência”, conta Felipe Neto. Há uma relação tênue entre o urbano e o rural. Um enlace observado pelas grandes mangueiras do local, pela presença da lagoa e das garças no seu entorno. Este cenário foi importante, inclusive, para a literatura de José de Alencar. 

> Em “Iracema” (1865), a protagonista homônima chorava às margens da Lagoa de Messejana por saudades do seu amado.

“Tão rápida partia de manhã, como lenta voltava à tarde. Os mesmos guerreiros que a tinham visto alegre nas águas da Porangaba, agora encontrando-a triste e só, como a garça viúva, na margem do rio, chamavam aquele sítio da Mocejana, a abandonada. Uma vez que a formosa filha de Araquém se lamentava à beira da lagoa da Mocejana, uma voz estridente gritou seu nome do alto da carnaúba: — Iracema!… Iracema!…”

> Segundo o “Relatório de batimetria das lagoas de Fortaleza” de 2008, esta compõe a bacia do Rio Cocó, tendo seu famoso espelho d’água 33,7 hectares e um volume de mais de 865 mil metros cúbicos de água, sendo, portanto, a segunda maior lagoa da cidade de Fortaleza.

> Nos arredores da Lagoa de Messejana encontram-se o Mercado da Messejana, o Clube da Caixa de Fortaleza, o Terminal Rodoviário e o de Integração.

> Na Lagoa, há um monumento erguido. A estátua representa Iracema e faz parte do projeto “Iracema – A Musa do Ceará”, que homenageou Alencar pelos seus 175 anos. Entregue em 2004, durante as comemorações de 278 anos de Fortaleza.

Marcas da autora

Edmar Freitas (2010) diz: “A cada dia que passa, convenço-me mais da necessidade de olharmos para o que está à nossa volta, para o nosso lugar. Acredito que somente assim poderemos assimilar o universal” (p. 9).

No cenário, que confunde literatura e realidade, estão presentes a memória do povo do subúrbio. Este, que assiste todos os dias o mais bonito pôr do sol. Falta falar de muita coisa. O cinema, o estádio, a relação dessa gente (que também sou eu). Messejana é onde a minha alma grita e dança, onde meu coração explode e faz festa. De fato, é o meu lugar neste mundo.

 

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