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A tal Marina Morena

Dorival Caymmi compôs uma das músicas mais célebres da primeira metade do século passado. A tal “Marina”, apesar de ser um retrato machista do eu-lírico que não queria que a amada usasse maquiagem, mas é em contradição de um compositor sempre doce, além da melodia ser tocante. Décadas depois, muitas Marinas entendendo isso rejeitam a letra e não as tiro razão.

Ainda assim, insisto em começar esse artigo falando de uma Marina morena que eu conheci. De início ela não me deu muita bola, mas depois firmamos um laço que vai além da finitude da vida, do espaço e tempo. Como não tenho amadas mais para dedicar meus textos, dedico este as minhas musas amigas que engrandecem meu dias.

Quando lhe vi pela primeira vez carregava um olhar meio exótico dos primórdios indígenas, antes da invasão, quando o povo tinha a liberdade de sorrir o riso verdadeiro descortinado a invasão colonial. Era a Marina de Iracema, obra que nomeia a própria terra, de alegria no olhar e força de guerreira.

A mulher é brasileira e seu sangue corre pelas veias feito coragem, por vezes até esquecida por ela. Marina me ensinou a mudar de rumo, de abraçar novos amores, maior inclusive do que os medos que a impedia. Muda de roupa, de sonhos e de vida! Sem deixar de ser esse ser fecundo de filhos, carinho, competência e amizade.

Olha alí, lá vai ela embalada nos caracóis do cabelo inovar a televisão cearense mostrando outra ancestralidade mestiça que dita mais uma vez sua força em descendência, que contagia e faz sonhar. Ela desafia o normal, apesar de hoje talvez não lembrar seus feitos de representatividade da tido como inspiração de vários.

Em todas as posições e em todos os campos, ela emplaca gol e como “irmã”, que assim considero, não é diferente. Seus braços acolhem, afagam e nos ajudam a caminhar dentre as frentes e vertentes da caminhada. Seu olhar é simples mas transmite a alegria que Guimarães Rosa já definia como motivo de viver. Olhos que falam até mesmo quando é para uma história engraçada e claro, a gargalhada é garantida.

Marina, tu tens a liberdade de desafiar o compositor baiano e pinte esse rosto que eu gosto e que é de tantos. Não esqueça que a coragem é a força dos sonhos e eles te fazem mãe, amiga, filha, irmã, jornalista, esposa e também mulher, invocando em verso outro poeta agora de Santo Amaro dizendo as dores e alegrias de ser quem é.

Hoje já não tenho vergonha de dizer eu te amo já que esse sentimento é o que nos conecta além da admiração que me faz assinar esse texto com orgulho de de dizer, “de seu querido irmão”. Somos unidos pela raça, pela força, pelos sonhos e não esqueça que são esses que nos revivem nossos encontros com faces em espelhos casuais. “Desculpe, Marina Morena, mas de ti nunca ficaria de mal”.

Por Heitor de Almeida

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