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A presença feminina no jornalismo e o perfil da profissional em Fortaleza

Isabelli Fernandes entrou no curso de jornalismo em 2015 e desde o começo observava aspectos que a rodeavam no meio universitário e, consequente, na profissão. Logo reparou a forte presença das mulheres em sala de aula, em uma a proporção que as vezes chegava a ser de 25 mulheres para 5 homens. 

Mesmo em vantagem numérica nos centros acadêmicos, ainda era notório que as mulheres tinham dificuldade de encontrar seu espaço e assumir posições de chefia na profissão, revelando resquícios de um passado onde os homens dominavam o jornalismo e as mulheres tinham dificuldade de ocuparem as redações. Como em um exemplo dado por Adísia Sá, durante as entrevistas para a produção do TCC,quando a jornalista, pioneira no ramo, compartilhou que não existiam banheiros femininos no jornal onde trabalhava e o direito só foi adquirido com o tempo. “É necessário ressaltar que nenhuma das conquistas da mulher no jornalismo veio fácil, como já era de se imaginar.”, destaca Isabelli. 

Com a certeza de que faria um TCC direcionado para um assunto relacionado às mulheres, Isabelli contou com a ajuda do orientador Alejandro Sepúlveda para guiá-la até ser batido o martelo sobre a temática do processo de feminização da profissão. Os dois buscaram as pesquisas necessárias para sustentar o tema e Isabelli também começou a entender sobre o processo vivido pelo jornalismo ao longo dos anos, notando que até os dias atuais as jornalistas ainda enfrentam dificuldade na profissão. Após as pesquisas, leituras, observações e conversas com o orientador, ela decidiu traçar um perfil da mulher jornalista com atuação em Fortaleza. O perfil teve como base a  pesquisa “Perfil do jornalista Brasileiro”, de Samuel Lima e Jacques Mick (2012). 

 

Agora, Isabelli compartilha com o Mural como foi esse processo. 

 

Mural da Ana Paula: Qual foi a pergunta/problema central que você buscava solucionar durante o seu trabalho?

Isabelli Fernandes: Buscando conhecer mais a respeito das profissionais, esta pesquisa partiu do seguinte questionamento: Qual é o perfil da mulher jornalista com atuação em Fortaleza? Para assim entender quem são essas profissionais. Dentro desta pesquisa, procuramos listar e entender quais os tipos de dificuldade que as jornalistas vivenciam dentro da profissão, tendo em vista que ocupam majoritariamente um mercado de trabalho antes ocupado por uma maioria masculina.

Por meio de entrevistas e um questionário, buscamos explorar como as mulheres jornalistas vivenciam essa atual realidade do jornalismo. Os objetivos específicos foram: entender como se deu a entrada da mulher no fazer jornalismo, compreender como são as relações de gênero dentro das redações jornalísticas, traçar o perfil socioeconômico das mulheres jornalistas com atuação em Fortaleza e buscar entender quais são os percalços enfrentados por essas mulheres.

Mural da Ana Paula: De que forma o seu trabalho está dividido?

Isabelli Fernandes: Começa com a parte mais histórica da mulher na imprensa. Logo no início falo um pouco sobre o Jornal das Senhoras, que surgiu com para falar sobre temas como moda, artes e críticas em geral mas ele foi muito mais do que só um jornal para as mulheres “belas, recatadas e do lar”, ele foi o começo de uma emancipação feminina registrada. Foi revolucionário para a época. Nessa primeira etapa falei de mulheres absurdamente marcantes para a nossa profissão, como: Eugênia Brandão, Margarida Izar, Regiani Ritter (tive a honra de entrevistá-la para o trabalho), Glória Maria, Adísia Sá (Também tive a felicidade de entrevistá-la) e Ivonete Maia. Encerrei o capítulo falando a respeito das principais escolas de jornalismo de Fortaleza. 

O segundo capítulo foi recheado com relações de gênero, então o feminismo foi abordado em alguns ângulos.Seria impossível construir um material sobre mulheres no mercado de trabalho sem trazer à tona questões de gênero. É necessário analisar como a mulher era vista na sociedade e quais foram as suas conquistas ao longo dos anos e com isso traçar um paralelo entre passado e presente.

O terceiro capítulo é o que traz a pesquisa, tanto quantitativa quanto qualitativa. A pesquisa quantitativa foi construída através de um processo bem demorado, primeiro foi feito um esboço de algumas perguntas, que posteriormente foram analisadas e incrementadas. Com a ajuda da professora Márcia Alves, que tem um vasto conhecimento sobre pesquisas de um modo geral, foi possível fechar o questionário de forma satisfatória. Este tinha o objetivo de coletar informações básicas sobre as vivências das mulheres jornalistas com atuação em Fortaleza.

Mural da Ana Paula: Quais foram as principais descobertas durante as pesquisas?

Isabelli Fernandes: A mulher jornalista é jovem, busca qualificação para o mercado de trabalho, não prioriza matrimônio e filhos, possivelmente por estar focada na carreira. O pensamento progressista faz parte da vida dessa profissional, tendo em vista que boa parte das respostas consistem em alguma identificação com a esquerda, também por conta dessa linha de pensamento a mulher questiona mais as estruturas trabalhistas e sociais. Com isso relata, de forma mais concreta, situações de assédio e discriminação de gênero em ambientes de trabalho. Apesar dos avanços, a mulher jornalista ainda sofre assédio, seja, sexual, moral e/ou stalking, mesmo sendo a maioria na profissão. A modernidade chegou aos ambientes de trabalho em forma de maquinário, mas não no aspecto pessoal.

A ocupação feminina em cargos de chefia mostra que a feminização do jornalismo está tendo um impacto nas relações de poder dentro da profissão, mas atingir esse patamar é considerado uma tarefa difícil. Mesmo com a dominância em participação, no mercado de trabalho jornalístico, a mulher não ocupa a maioria dos assentos de direção. Apesar de terem uma boa qualificação, o sexo feminino ainda vive sob jugo dos homens e convivem com o assédio de forma direta.

Mural da Ana Paula: Qual foi a parte mais desafiadora de produzir esse trabalho?

Isabelli Fernandes: Houve inúmeros desafios, primeiro que a para construir a bibliografia foram necessários vários dias de leitura e pesquisas infinitas, como todo TCC. Mas acredito que entrevistar as jornalistas, como Adísia Sá, Wania Dummar, Ângela Marinho, Emília Augusta, Ana Márcia Diógenes, Maristela Crispim e Marilena Lima, foi um desafio enorme. Qualquer estudante de jornalismo que tenha o mínimo de conhecimento da vida dessas profissionais ficaria nervosa ao entrevistar mulheres que são mestres nessa arte. Deu um frio na barriga mas foi uma experiência maravilhosa, só tenho a agradecer a paciência e a disponibilidade dessas mulheres.

Mural da Ana Paula: Você planeja aprofundar essa pesquisa?

Isabelli Fernandes: Quando eu finalizei o curso estava muito certa que queria levar esta pesquisa a frente, de forma mais elaborada e densa mas estou tendo dificuldade em adequar a uma linha de pesquisa que as universidades de Fortaleza possuem. Por conta disto estou frequentando alguns grupos de estudo da UFC para conseguir definir o que seguirei para a pesquisa de mestrado. Mas posso dizer que esse formato de pesquisa, sendo quantitativa e qualitativa, ganhou o meu coração acadêmico (risos). Quando a gente sai da universidade existem um leque de opções, caminhos… e eu estou tentando aos poucos saber qual direção acadêmica irei seguir. Mas sei que a bússola aponta para mestrado. 

 No decorrer da produção do trabalho, Isabelli teve contato com grandes nomes do jornalismo local, como Wania Dummar, Ângela Marinho, Emília Augusta, Ana Márcia Diógenes, Maristela Crispim e Marilena Lima. Mas destaca uma entrevistada em especial que foi muito significativa. ”Eu estava muito nervosa para ligar e solicitar a entrevista com ela, e dei um mole muito grande […] Liguei a primeira vez e ninguém atendeu, tentei a segunda e foi nessa tentativa que uma voz baixinha e sonolenta atendeu o telefone. Com a minha voz trêmula eu perguntei se podia falar com Adísia, e a mesma disse “Minha filha, que horas são?” e eu prontamente respondi, foi nesse momento em que notei que tinha acabado de acordar, do sono da tarde, uma das maiores jornalistas do Ceará. Ainda bem que ela aceitou o meu convite ao final da ligação, consegui entrevistar Adísia Sá no apartamento dela e essa foi uma das maiores alegrias que esse tcc me proporcionou”, compartilha Isabelli.

 

 

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