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Uma realidade que poderia ser ficção

O documentário “Democracia em Vertigem”, lançado em junho de 2019, é dirigido pela cineasta Petra Costa e relata acontecimentos da política brasileira, desde a chegada do Partido dos Trabalhadores a presidência, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, até o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Recentemente, a produção concorreu ao Oscar 2020 na categoria “Melhor Documentário”.

O que torna Democracia em Vertigem uma peça tão importante ao ponto de concorrer a maior premiação cinematográfica? Em pouco mais de duas horas, o público é confrontado pela própria história e exposto a fatos políticos essenciais para as construções de lutas, identidades e derrotas dentro do Brasil. Logo nos primeiros minutos, Petra não esconde sua posição política e revela sua própria origem para o público, filha de militantes, cuja mãe foi presa durante a ditadura militar, e neta de um dos homens mais influentes no ramo da construção civil, envolvido no escândalo da Lava Jato.

Narrado em primeira pessoa, o longa faz uma construção dos fatos que ocasionaram a queda de Dilma, as alianças políticas formadas antes e durante o processo, a volta do poderio da direita e o início da polarização política que tomou o Brasil, sem parar de avançar nas últimos anos. Uma das grandes cartas da produção é a maneira como Petra esteve próxima a Dilma durante o processo, trazendo imagens exclusivas de conversas com a presidente, inclusive no dia em que a Câmara dos Deputados votou o processo de impeachment.

Democracia em Vertigem é construído em torno da cerne que envolve a política no Brasil, o planalto. Estudando, mostrando e explicando questões muitas vezes despercebidas pela público, Petra deixa em pauta que nada acontece por acaso e o que por vezes é defendido como “pelo bem do povo” não passa de jogos políticos muito bem arquitetados em busca pelo poder.

Apesar de sua posição política, a cineasta não poupa críticas às escolhas feitas durante os anos de governo do PT e tenta trazer outros pontos de vista, o próprio presidente Jair Bolsonaro tem uma participação na produção. Na época, sua candidatura era apenas uma especulação.

As sensações causadas pelo documentário são variadas. Choque, vergonha, medo, incredulidade e a vontade dilacerante de mostrar para as pessoas questões que não podem ser ignoradas. Em certas partes, o desejo é que seja uma obra de ficção, mas quando os créditos sobem a realidade lembra sua total verdade.

Democracia em vertigem mostra uma nação dividida por interesses de um grupo, que com um discurso é capaz de atrair milhões. Um povo incapaz de acreditar em sua própria história e fadado a repetir o passado.Direita ou esquerda, o documentário é história e trata de fatos que não podem ser esquecidos pelo povo brasileiro caso se queira quebrar um ciclo que assola a política do país desde sua existência.

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