Fortaleza, CE
contato@muraldaanapaula.com.br

CRUELLA: A DESCONSTRUÇÃO DA VILÃ

Imagine que desafio para a Disney contar a história de origem de Cruella, a vilã super perversa com intenções de matar dálmatas para a produção de casacos de pele. Não é de se espantar que as expectativas em torno do novo Live Action não fossem lá muito receptivas, certo? Afinal, nenhum de nós estaria inclinado a se afeiçoar pela assassina de cachorros. 

O que a Disney propõe, então, não é uma adaptação do famoso desenho ou uma continuação da animação já conhecida. Trata-se de uma história original que se debruça sobre uma investigação atenta e cuidadosa acerca das camadas de uma vilã anteriormente apresentada à nós como unidimensional. 

Agindo com esperteza diante da evidente antipatia do público em relação a protagonista, o roteiro tenta nos aproximar da personagem iniciando-se ainda na infância, quando Cruella era apenas Stella (vivida por Tipper Seifert-Cleveland), uma garota rebelde, enérgica, avessa aos padrões sociais de comportamento, mas substancialmente inteligente e criativa. Ainda nesse período, eventos trágicos e traumáticos se sucedem, levando Stella à idade jovem adulta (aqui protagonizada por Emma Stone) onde vive marginalmente de furtos arquitetados ao lado de seus amigos Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser) e de seu sonho genuíno de se tornar fashionista. 

O talento de Stella para a moda desperta a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), dona de uma grife renomada para a qual Stella é contratada. A relação com a chefe traz à tona revelações transformadoras que apontam para a verdade a qual pertence o passado da protagonista. O impacto e desenrolar das recém descobertas culminam na manifestação de seu alter ego Cruella e na sua ascensão enquanto estilista. 

É importante observar que não existe, no longa, a tentativa de justificar os atos condenáveis da vilã. O filme reconhece os erros e falhas de Cruella através da manifestação de expressões de vingança, rancor, egoísmo, arrogância e até certo nível de psicopatia. Não há, nem de longe, a intenção de fazê-la mocinha, mas sim um esforço que procura entender a sua vilania. 

Emma Stone desloca-se com primor entre as duas personalidades (Stella e Cruella), equilibrando, na melhor atuação de sua carreira, as composições conflitantes de cada uma. A atriz também sustenta em postura ousada e divertida figurinos icônicos (criados por Jenny Beavan) que encantam até os mais distantes e alheios ao universo da moda.  

Craig Gillespie assina a direção dinâmica, autoconfiante e criativa da produção. O filme tem ritmo enérgico, condução competente, elenco genial e, prepare-se: carisma. 

E você? Até onde consegue humanizar Cruella? 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *