Ana Mendieta (1948 – 1985) foi uma artista cubana que usava o próprio corpo para retratar questões políticas, de gênero, identidade, violência e machismo expressas por meio de performances. Ana era feminista e este era um dos temas centrais de suas obras que dão voz à assuntos silenciados.
Corajosa, sensível e visceral, Ana teve uma carreira artística diversificada e impactante que marcou profundamente a performance dos anos 1970 e inspira mulheres e coletivos feministas até o dia de hoje. Por isso, o Mural separou três trabalhos da artista emblemática na lista a seguir.
- Glass on Body
A série de fotos onde Ana usa placas de vidro para deformar o próprio corpo é uma crítica e questionamento dos padrões de beleza e da manutenção do controle exercido pelo patriarcado sobre corpos femininos. É possível identificar na performance o olhar político embutido na crítica às opressões e violências reservadas às mulheres.
2. Rape Scene
Intimamente atingida pelo episódio onde uma colega da faculdade foi estuprada e morta, Ana realizou uma performance em seu apartamento onde se colocou seminua, amarrada e debruçada sobre uma mesa com sangue escorrendo pelas pernas. Recriando a brutalidade do crime, a artista convidou colegas da universidade e permaneceu imóvel durante horas, atribuindo a essas pessoas o papel de testemunhas.
3. Silueta Series
As séries de Siluetas expressam a conexão da artista com a natureza fundamentada na replicação e marcação de sua silhueta em elementos como areia, grama e barro. Para Mendieta, a terra é fonte de vida e está culturalmente associada ao feminino. A natureza como uma extensão do corpo. É um trabalho feito no campo da semiótica mas também no da espiritualidade.
A vida de Ana Mendieta se encerrou de forma trágica e precoce. Aos 36 anos, a artista caiu do 34º andar do apartamento onde morava com o escultor Carl Andre, seu marido. Há relatos de uma intensa discussão entre os dois no momento da queda, e a alegação de suicídio dada por Carl é, ainda hoje, colocada em dúvida. Prevalece a desconfiança de que a queda foi, na verdade, um assassinato pelo qual Carl foi julgado e absolvido em 1988.
As desconfianças em torno da sua morte mobilizou mulheres e artistas em diversos protestos e o nome de Ana é permanente em movimentos feministas. Mais do que somente noções sobre arte contemporânea, Ana Mendieta nos oferece, através de sua vida e obra, reflexões sobre nós mesmas e sobre o mundo.