Era uma tarde de sábado quando, sob olhares inebriados, mar e céu embalavam a chegada da noite em uma perfeita sintonia de cores e sons. A extensão de areia embaixo dos pés tornava os movimentos lentos e pesados, quase como um apelo para que os corpos ali presentes desacelerassem e assumissem seus papéis na cena proporcionada pela própria natureza. Assistindo ao espetáculo, de perto eu ouvia as músicas sussurradas no radinho do casal sentado atrás de mim, os dois absortos em um mundo próprio, de conversas, sorrisos, admiração e paixão pintada em tons de azul, laranja e rosa.
Ainda que perdidos e achados um no outro, eles não estavam alheios ao céu inspirado que assumia o protagonismo. O quadro pintado pelo mais talentoso pintor, capaz de nos transportar para uma exposição exclusiva, ainda que compartilhada no coletivo. A obra exposta gloriosamente, sem timidez, venerada por olhares incapazes de absorver sua magnitude por completo.
Entre os olhares de admiração e as conversas particulares, todos naquela areia pareciam apenas compartilhar uma coisa em comum: a beleza que nos era apresentada de graça, por pura graça. O som das ondas se quebrando com delicadeza. A risada das crianças correndo ao redor. O cheiro de sal. O vento impetuoso. A beleza além do que nossos olhos podiam captar ou mesmo nossas mentes compreender.
Na beleza natural, a vida. Ser pó na imensidão do universo. Apenas pó na imensidão da criação, capaz de se dissolver como a fina areia por entre os dedos. E naquela partícula de infinito, as crianças se divertiam sem sequer imaginar como o lado belo e feio podem disputar constante atenção. Jovens amigos deixando para trás os problemas da semana e apenas desejando capturar aquele milésimo segundo de calmaria. Casais, dos mais novos aos mais velhos, em suas mais profundas declarações de amor, muitas ditas apenas com os olhos. Famílias fortalecendo seus laços. A grande plateia curtindo em silêncio a singeleza do momento.
Era uma tarde de sábado e a noite chegava sem olhar para o calendário.