Quantos anos eu vivi
Desde o início da adolescência passei a refletir um pouco mais sobre minha memória e as lembranças que eu trazia nela, incontáveis vezes lembrava de algo e me perguntava se realmente havia acontecido como e quando eu lembrava. As vezes alguém me confirmava que eu estava certa e as vezes eu percebia que meu recorte temporal realmente não era dos melhores. Em grande parte achava que isso tinha relação aos dias corridos e horas que passavam sem eu perceber, transformando 1999, 2006 e 2014 em uma só lembrança.
Recentemente, me peguei refletindo novamente sobre isso em relação a um ano nada típico: 2020. Sim, grandes são as chances de este ano causar em outras pessoas o mesmo que ele causa em mim. As vezes, me parece que não vivi nada além dos dias trancada dentro de casa, mas também existem momentos em que recupero lembranças dos meses que antecederam o caos e acabo tendo a sensação que eles foram vividos há muitos anos. Os encontros com amigos, as aulas na faculdade e até mesmo a sensação de um novo ano pelo frente, parece-me que janeiro, fevereiro e março foram vividos em um pré-2020. A verdade é que, em meio a tantas notícias agoniantes, meu cérebro tentam desvincular aquelas que trazem o prazer do bons dias de sol e vento no rosto. É como se elas não fizessem parte de um ano tão pesaroso.
Por isso, me pego pensando tanto e tentando permanecer no que é real. E quanto mais paro para refletir, mais me pergunto: quantos anos eu vivi em um único ano? Sim, tenho para mim que se 2020 fosse uma série de TV, eu já conseguiria separar minhas temporadas. A primeira trouxe muitos planos, a segunda muitos choros e, bem, ainda não cheguei na terceira para saber o que aconteceu de verdade, mas mantenho a esperança que sejam bons dias.
Ainda se não forem, tenho aprendido a lidar com os altos e baixos. As tempestades têm me ajudado a valorizar mais o calor que muitas vezes tanto reclamo, têm me ajudado a saber quem sempre estará na chuva comigo e têm me ensinado que antes do arco-íris aparecer, eu preciso deixar que as boas cores brilhem em mim e em minhas ações.
Espero que quando essa série terminar, eu consiga olhar para a primeira, segunda, terceira temporada… e saber que até posso ter vivido vários anos em um, mas o que realmente estava diferente em cada um deles era eu mesma.