Fortaleza, CE
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O interior de si e das cidades

Dia desses, voltando pra casa após uma consulta, com muita enxaqueca, ali na altura do Cocó, onde o asfalto se encontra com os paralelepípedos, senti uma sensação que já conhecia. Esse pulo que o carro dá quando o asfalto se encontra com o paralelepípedo pouco sinto aqui em Fortaleza, mas, lembrei de todas as vezes que regresso à Jaguaribara, cidade que é meu interior, e, quando isso acontece ao chegar lá – onde me desligo desse mundo asfaltado, que se acha incansável – já por instinto, faço o sinal da cruz em agradecimento por chegar em paz e, logo em seguida, o sorriso brota no meu rosto.

Achei tão engraçada a situação, por um segundo, pensei estar entrando em Jaguaribara. Não sei como chamam isso, mas eu denomino saudade. É engraçado, mas por aqui a gente sempre pergunta “qual o seu interior?”, acredito que não é por acaso que se chama “interior”. É lá que nos encontramos com a paz do nosso interior, de si e da cidade. É lá no interior que nosso interior é mais pulsante.

Hoje, já depois de estar submersa nesse mundo asfaltado, onde as pessoas se julgam incansáveis, trabalhando dia e noite, noite e dia, onde nem mais tempo elas têm pra sentir o cansaço, eu vejo o quanto é importante se dar por vencida e calejar de saudade não só do descanso, mas daquilo que a gente realmente gosta de fazer.

Nesse mundo asfaltado em que as pessoas viram escravas do trânsito, que come o tempo do dia. E quando a gente vai ver, acabou e não deu nem tempo de pensar nas pessoas que a gente não vê há muito tempo. Não deu tempo pensar na saudade. Não deu tempo ligar. Não deu tempo olhar o céu na hora do pôr do sol porque a gente estava numa sala sem janelas e com ar-condicionado. As vezes não dá tempo nem escutar a música que a gente gosta, nem almoçar… Até dá. Mas a gente esquece.

E eu não sei como seria se não houvessem os paralelepípedos marcados pela história de resistência…

 

 

 

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