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186. tapeçaria interna

Eu sou o que ninguém vê, minha vida se molda nos momentos em que escondo e nos momentos internos do meu ser.
Sou-me quando estou na solidão e na companhia de meu ser.
Não digo que tal declaração expõe falsidade, mas que apenas eu me conheço por inteiro e minha vida se faz nos pequenos detalhes e nas maiores situações.
A única pessoa que está lá comigo em todos os momentos sou eu.
Sou-me inteiramente e profundamente minha e essa tapeçaria interna que me tece a cada momento pertence a ninguém mais. Sou-me.

Se quiser dizer que existo, direi “sou”. Se quiser dizer que existo como alma separada, direi “Sou eu”. Mas se quiser dizer que existo como entidade que a si mesma se dirige e forma, que exerce junto de si mesma a função divina de se criar, como hei de empregar o verbo “ser” senão convertendo-o subitamente em transitivo? E então, triunfalmente, antigramaticalmente supremo, direi “Sou-me”. Terei dito uma filosofia em duas palavras pequenas. Que preferível não é isto a não dizer nada em quarenta frases? Que mais pode exigir da filosofia da dicção”

Fernando Pessoa – Livro do desassossego

 

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