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Entrevista com o escritor Paulo Henrique Passos

Escritor Paulo Henrique Passos. Foto: reprodução.

Vanessa Passos: Quem é Paulo Henrique Passos?

Paulo Henrique Passos: Escritor, professor, mestre em literatura pela Universidade Federal do Ceará e autor de Reality, livro de contos fantásticos, absurdos e insólitos que falam sobre a vida vigiada pelas câmeras. Para ele, a imaginação deve prevalecer e as realidades podem se tornar sonhos.

Vanessa Passos: Quando começou a escrever?

Paulo Henrique Passos: Aos 18 ou 19 anos. Depois de ler Patativa do Assaré, quis imitá-lo. Então escrevi muitos poemas rimados. O meu primeiro texto em prosa, digo o primeiro que escrevi sem que ninguém pedisse, se chamava A incompreendida (acho que era esse o nome) e falava sobre a matemática como uma senhora de quem ninguém gostava. Na época, eu estudava para o vestibular, e uma das matérias cobradas na segunda fase era matemática; isso para o curso de Administração, que foi o que tentei primeiro, antes de decidir por Letras.

Vanessa Passos: Quais gêneros você escreve?

Paulo Henrique Passos: Conto. Sobretudo conto. Tenho ideias para romance, mas ainda não as coloquei para frente. Com a Oficina de Criação Literária que estou fazendo com o Luiz Antonio de Assis Brasil, na PUCRS, quem sabe uma dessas ideias para romance avance.

Vanessa Passos: O que ou quem te inspira a escrever?

Paulo Henrique Passos: Ler ficção, assistir a filmes e séries, ler sociologia e filosofia, observar as pessoas, prestar atenção na realidade em volta – a realidade mais próxima, de coisas e pessoas que conheço, e a mais ampla, que apontam para o país e o mundo, pensar em imagens e ideias não usuais a partir do que vejo e do que leio, fatos estranhos.

Vanessa Passos:  Como funciona seu processo de criação?

Paulo Henrique Passos: Hoje funciona assim: anoto ideias vagas no celular sem muito critério – o que vem, do jeito que vem, eu registro – depois, ao longo dos dias, ao mesmo tempo que posso ter outras ideias, posso voltar a uma ideia já anotada para complementá-la. Então, se vejo que a ideia pode dar um conto, levo-a para o Word ou o Google Documentos e começo a pensa-la como história: penso em possibilidades de como aquela narrativa pode se desenvolver, o que pode acontecer nela, um possível começo, um possível final, quais os personagens, etc., algo como falar para mim mesmo por escrito por onde aquela história pode ir. Escolho uma dessas possibilidades e descarto as outras. O passo seguinte é começar o texto. Nessa etapa, escrevo muito lento.

Vanessa Passos: O que te motiva a escrever?

Paulo Henrique Passos: A raiva e o prazer de achar a melhor frase e de construir imagens estranhas

Vanessa Passos: Já teve algum bloqueio criativo? Se sim, o que você fez para superá-lo?

Paulo Henrique Passos: Quando não sai nada, não forço. Quer dizer, forço um pouco. Mas logo paro, saio de frente do computador e ou vou ler ou lavar louça ou comer uma fruta ou fazer qualquer coisa que não tenha a ver com escrever. Ou ainda, quando não sai nada de uma ideia, tento avançar em outra e em outra, até ver que eu posso ficar com uma.

Vanessa Passos: Agora, fala um pouco sobre seus livros.

Paulo Henrique Passos: Lancei, por financiamento coletivo, o Reality. É um livro de contos fantásticos, absurdos e insólitos que falam sobre a vida vigiada pelas câmeras. São catorze histórias nas quais prevalece o fantástico, o absurdo, o insólito. A televisão é um dos elementos principais do livro. As câmeras (na TV, nos smartphones e as de vigilância) são o ponto de partida para narrativas que tratam da privacidade, da realidade deturpada e do fato de essa realidade ser tantas vezes inapreensível. Histórias que falam da comédia da vida vigiada pelas câmeras. E que trazem à tona o conflito entre nós e a nossa própria imagem. É por meio das câmeras, quase sempre, que coisas absurdas e estranhas acontecem em meio ao cotidiano banal: ver-se duplicado nas telas de monitoramento, o sumiço de uma criança numa foto, perfis online que ganham vida própria, a vida televisionada 24 horas por dia. Uma coisa, implícita ou explicitamente, costura todos os contos: o desejo de poder. E algumas perguntas que de algum modo guiaram a escrita dos todos eles são: O quanto as câmeras podem distorcer a nossa imagem? Até que ponto é verdadeira a realidade registrada por elas?

Vanessa Passos: Para você, qual a importância da leitura?

Paulo Henrique Passos: A de permitir que, sendo mais nós mesmos, sejamos também outros. A leitura é o nosso sexto sentido.

Vanessa Passos: Qual mensagem você quer deixar para os seus leitores?

Paulo Henrique Passos: Nenhuma mensagem específica. Desejo que os meus leitores se divirtam e ao mesmo tempo pensem em si e no mundo.

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