Vanessa Passos: Quem é Rosângela Martins?
Rosângela Martins: Uma pessoa simples, solidária, criativa e com um elevado senso de responsabilidade.
Sou mãe, esposa, dona de casa, corredora e escritora, tudo ao mesmo tempo, resultado de uma vida pontuada por superações. Tive uma infância muito pobre; comecei a trabalhar e estudar à noite aos 17 anos; meu primeiro filho sofreu de retardo psicomotor; aos 27 anos, me mudei com meu marido e filhos do Rio de Janeiro para Pernambuco, onde coloquei um ponto comercial, sem conhecer absolutamente nada do ramo; em 2017 fui diagnosticada com início de ruptura dos tendões de Aquiles; e decidi escrever uma narrativa longa.
Com esforço, porque nada vem de mão beijada, superei a pobreza com trabalho e estudo; meu filho passou por vários tratamentos na primeira infância e ficou completamente curado, sem sequelas; meu negócio prosperou; com tratamentos e cuidados, continuo correndo; e, após vários cursos na área da escrita, meu romance já está em pré-venda. Enfim: minha experiência de vida define quem eu sou.
Vanessa Passos: Quando começou a escrever?
Rosângela Martins: Posso dizer que tive dois inícios na escrita.
Começou com redações e poesias sendo escolhidas para serem lidas nas festinhas da escola. Aos 15 anos, tirei em 2º lugar no concurso Jovem Escritor Carioca 1979, com premiação em dinheiro e entrevista na TV Globinho, com Paula Saldanha. Aos 18 anos, publiquei um livro de contos e poemas – O OUTRO LADO DA PORTA – pela Editora Shogun, de Cristina Oiticica e Paulo Coelho. E minha carreira parou por aí, com o meu casamento, após concluir a faculdade de Jornalismo.
A segunda fase começou em 2017, quando me aposentei. Li vários clássicos como O Guarani, A moreninha, Escrava Isaura, O Alienista, dentre outros, e eles me despertaram a vontade de escrever um romance. Dois anos depois, eu concluí a história, escrevendo apenas com a percepção de leitora. Com opiniões de que ele não estava dentro dos padrões de um romance, eu o engavetei e comecei a fazer vários cursos, assistir vídeos e palestras e a consumir todo o tipo de material que podia sobre escrita. Consegui, então, ter mais de 30 publicações em antologias de contos e poemas. Mas, apenas em 2021, conheci o Pintura das Palavras, da Vanessa Passos. Ela mostrou que não basta apenas conhecimento, necessitamos de planejamento, organização e ação. Durante as aulas do Curso 321, cheguei a mais de 50% da escrita de uma nova história. Porém, se eu já tinha uma história toda contada e possuía o conhecimento para a adequar aos padrões de um romance, por que não o fazer? Por mais de 2 meses intensos, fiz uma verdadeira “plástica literária” e consegui salvar o romance, dar um novo título e, finalmente, partir para a publicação.
Vanessa Passos: Quais gêneros você escreve?
Rosângela Martins: Poesia, contos e, agora, romance. Procuro passear pelo humor, pelo romântico e pelo suspense.
Vanessa Passos: O que te inspira a escrever?
Rosângela Martins: A própria vida: experiências vividas e observação de tudo em volta — pessoas, lugares, histórias. Outro dia mesmo, estava correndo na BR-232 e vi uma aranha preta bastante peluda e isso me deu ideia para escrever um conto, que é um dos meus favoritos.
Vanessa Passos: Como funciona o seu processo de criação?
Rosângela Martins: Eu sempre ando com papel e caneta à mão e anoto todos os insights. Na hora de passa-los para o meu banco de ideias no computador, eu já vou acrescentando mais detalhes e frases. Então, quando quero produzir algum texto, pego nesse banco as ideias que posso aproveitar, de acordo com o tema.
Vanessa Passos: O que te motiva a escrever?
Rosângela Martins: A princípio, escrevo para mim, por necessidade, como uma compulsão. Não sei ler um livro sem fazer anotações e rabiscos. Ao escrever, quando o texto fica do meu agrado, quero compartilhar com outras pessoas as mesmas sensações que ele me causou. E, quando recebo um feedback positivo, isso é altamente gratificante e um grande incentivo para continuar, não tem preço.
Vanessa Passos: Já teve algum bloqueio criativo? Se sim, o que fez para superar?
Rosângela Martins: Como tenho o meu banco de ideias e passei a escrever com escaleta, não costumo ter problemas com bloqueio criativo. O único tipo de bloqueio que tenho é ficar travada algumas vezes com a descrição de uma determinada cena. Nesse caso, eu paro, vou assistir a um filme ou ler um livro. Sempre ajuda.
Vanessa Passos: Agora, nos fala um pouquinho sobre as obras que já escreveu.
Rosângela Martins: Em 2018, venci o I Concurso Trapiche de Poemas e contos, com o livro de poesia PEDACINHOS DE AMOR, atualmente disponível nos principais sites de venda do país e com mais de 1700 downloads. Também estou em fase de pré-venda do meu romance de época CORRENTES DE PAPEL, pelo Catarse: https://www.catarse.me/correntes_de_papel_b467 Neste romance, o retrato de uma época — o Nordeste do Brasil no final do século XIX — constrói a ambientação do drama romântico vivido pela personagem Catarina, que envolve questões relevantes como relacionamento inter-racial, violência, suicídio e espiritualidade, temas recorrentes na História da humanidade, dignos de discussões e reflexões.
O projeto funciona como uma pré-venda do livro. Além de valorizar obras produzidas por mulheres, os apoiadores estão ajudando a difundir produções literárias regionais e nacionais. E ainda recebem em casa o seu(s) livro(s) autografado(s) pela autora, acompanhado(s) dos mimos, conforme o kit adquirido.
Vanessa Passos: Para você, qual a importância da leitura?
Rosângela Martins: Antes de sermos escritores, somos leitores. A leitura desenvolve a capacidade de raciocínio, agrega conhecimento e cultura, além de ser um agradável entretenimento. Com a leitura, viajamos no tempo e no espaço; vivemos um número incontável de vidas.
Vanessa Passos: Qual mensagem você quer deixar para os seus leitores?
Rosângela Martins: É sempre bom esclarecer os leitores sobre o processo de escrita. Atualmente, temos excelentes cursos e formações para escritores, o que contribuiu para melhorar bastante a qualidade da escrita nacional. Alguns escritores chegam a se dedicar às suas obras por 2, 3, 5, 10 anos, no intuito de levar aos leitores o melhor do seu enredo, dos seus personagens e da sua narrativa. No caso das mulheres que escrevem, o esforço é ainda bem maior: conciliar a condição de mãe, esposa, dona de casa, trabalhar fora e ainda conseguir escrever é quase um milagre. Por isso, eu peço aos leitores que deem preferência a obras de escritores nacionais, que valorizem as obras escritas por mulheres e que acreditem no nosso potencial.