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Um poema da Clara

Para marcar a passagem recente dos 58 anos do golpe civil-militar brasileiro, ocorrido entre 31 de março de 1964 e 1º de abril de 1964, trago o poema “Sinal fechado”, de autoria da personagem Clara, que divide com a filha Joëlle o protagonismo do romance “O segredo da boneca russa”.

Os versos da fictícia Clara foram escritos na sua juventude, durante o período da ditadura militar brasileira, e demonstram angústia frente à enorme desigualdade social no país.

Para quem ainda não leu o meu livro, trata-se de uma narrativa que mescla ficção e fatos históricos de um tempo que não queremos que se repita.

Sinal fechado

O sinal fechou

A esperança mudou de cor

Sangue e pão

Escassez de cada dia

No olhar quanta dor

tanta revolta no pensar

Estira a mão

a perna manca

Fala, não escuto

O ar

 

Abre o sinal

Verde é o seu penar

Sem pão, sem calor, sem chão

O amor não pintou

nem para gerar

Troco o olhar

tremo ao pensar

Somos irmãos

sem amor

com odiar

 

Ah! menino de rua

A esquina é o seu lar

Viveremos

um dia

Teto e mesa

igualmente divididos,

Mãos e olhares unidos,

Corpo e coração aquecidos,

numa chama de amor

Sempre a queimar?

A covardia me acompanha

Deixando-o aí

Para eu bem prosseguir

nos cruzamentos da vida

Sem ouvir

do meu conforto

O seu grito

de fome

e sede

de justiça.

PS. O poema preenche as páginas 227 e 228 do citado livro.

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