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Minhas descobertas dentro do feminismo

Costumo pensar muito sobre a minha jornada de descobrimento do feminismo, desde as primeiras vezes, que enquanto adolescente, entrei em contato com o movimento, até aqui. Penso que, inicialmente, descobri o feminismo com ideais liberais, repassadas até mim. Aquela representação feminista branca e capitalista, baseada em expressões americanizadas como “girl power”. A sexualidade mercantilizada. O empoderamento exacerbado de crianças e adolescentes que promove, apenas, a sexualização precoce e a exploração. Enfim, entre tantas outras questões concernentes a essa vertente do feminismo.

Obviamente não cheguei a tais conclusões sozinha ou tão cedo. Vivi por um pequeno período de tempo pensando no feminismo apenas como (resumidamente): eu posso usar shorts curtos e eu posso dizer qualquer coisa que eu quiser e eu posso mostrar meu corpo e eu posso me negar a fazer qualquer coisa, porque sim, eu estou sendo feminista.

E eu acredito que tudo que foi citado anteriormente é válido, mas deve acontecer no tempo certo e acima de tudo, deve ter limites, para que não tentemos empoderar ou promover mulheres as colocando em risco ou deixando ser “ok” que elas não sejam ensinadas, diante do que suas realidades lhes proporcionam, a pensar e entender criticamente.

 Mas para mim, essas questões são apenas a ponta do iceberg e obviamente, merecem atenção, mas existem coisas bem mais profundas. Na minha experiência, comecei a estudar academicamente sobre o movimento feminista.  Eu era educada sobre coisas que aconteceram e aconteciam no movimento feminista, em nível global (e sou grata por cada mulher que fez ser possível estarmos em um lugar melhor agora, do que elas estavam ao longo de suas lutas), mas ler e estudar sobre apenas me serviu para quando eu pudesse ter uma conversa com alguém que fosse academicamente educado como eu.

E falando sobre a minha jornada de sentir e compreender o que o feminismo realmente significava, comecei a entender que mesmo não sabendo tudo que eu deveria saber, sabia que além dos grandes movimentos feministas, perto da minha realidade e do que eu poderia ser capaz de “tocar”, mulheres são violentadas física e sexualmente, mulheres são subjugadas por homens, mulheres são mortas porque a violência, em algum momento, chega ao extremo. Mulheres passam fome, são obrigadas a aceitar o mínimo, estão presas à uma rede de abuso, não possuem assistência estatal ou social.

De qualquer forma, essas coisas foram apenas algumas que tomei consciência durante o meu processo de entendimento. Me lembro que mesmo tomando consciência sobre tais questões, tinha alguém ao meu lado que sabia muito sobre feminismo, em uma perspectiva melhor, porque, assim como eu, essa pessoa havia visto de perto inúmeras situações. E graças a isso, comecei a pensar, resumidamente falando, sobre feminismo interseccional, conheci movimentos próximos à minha realidade, em que eu pude estar presente, descobri ações que poderiam ser tomadas para ajudar mulheres e afins.

Quando ouvi sobre feminismo interseccional foi um divisor de águas. O primeiro livro que li sobre se chamava “mulheres, raça e classe”, da Angela Davis, e correndo o risco de não conseguir me expressar de forma correta, entendi que mesmo que estivéssemos em constante busca pela igualdade, não estávamos na mesma posição. Eu, sendo uma mulher LGBTI+ e branca, tenho privilégios sobre outras mulheres. Mulheres brancas possuem privilégio sobre mulheres negras. Mulheres ricas possuem privilégio de classe sobre mulheres pobres, e assim, sucessivamente.

Como falei anteriormente, desenvolvi a consciência de que estudos e leituras e opiniões em redes sociais não me serviam de nada se eu não buscasse aplicar o que aprendi na realidade de mulheres que estão próximas a mim. Sabia que precisava entender meus privilégios para ser capaz de ajudar. E isso é o que eu busco fazer.

Em síntese, este não é um texto sobre julgamentos ou definições, mas um resumo extremamente pequeno sobre a minha jornada pessoal dentro do feminismo. Eu não sei nada, mas aprendi que podemos estudar, nos educar, compreender, discutir, mas também podemos observar o que está próximo a nós, a realidade que podemos ajudar a mudar enquanto estamos nesta posição, as ações eficazes que devemos tomar, a educação feminista que podemos oferecer às mulheres e meninas que não possuem nenhum acesso, a assistência material e psicológica, enfim, e para mim, é aqui que o feminismo realmente acontece. E espero que assim como eu consegui chegar à lugares e pensamentos, tanto sozinha quanto com a ajuda de pessoas, esse texto, embora fragmentado e resumido, seja capaz de despertar alguma coisa em alguém.

 

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