No dia 15 de setembro de 1971, doze ambientalistas partiram de Vancouver cruzando o oceano em direção às ilhas Aleutas, local em que os EUA haviam programado uma explosão nuclear. Denunciando os impactos ambientais dos testes nucleares e fortalecendo o movimento global contra as guerras, os tripulantes que lutavam pela ‘’paz verde’’ foram todos presos pela guarda costeira e o teste nuclear ocorreu, explodindo a ilha e toda a biodiversidade que lá havia. Presos e assistindo a explosão da ilha, os ativistas, dentre eles jornalistas, sabiam que o objetivo havia sido alcançado: a comunicação direta. Milhões de pessoas acompanharam emocionados cada passo dos 12 ousados ativistas e estes foram os primeiros integrantes da maior ONG de ativismo ambiental do mundo, marcando o início de um grande movimento global pelo meio ambiente.
A história e a práxis nos mostra que a coluna vertebral das grandes transformações sociais está na comunicação e com o meio ambiente não é diferente. O contexto global pode ser satisfatoriamente compreendido quando se analisa o Brasil. Hoje, 85% da população brasileira vive em menos de 1% do território nacional. Essa aglutinação aguda na paisagem mais distante do que seria um ambiente preservado, as cidades, faz com que os brasileiros nasçam e cresçam sem ter, em boa parte, um contado com a origem do que consomem e com o destino do que descartam. Assim, experiencia-se hoje uma alienação massiva e sistêmica de cada pessoa da urbe em relação à complexidade da rede ecológica à qual ela faz parte. De onde vem o que consumimos? De onde é retirada a água que bebemos? A energia que utilizamos, como foi produzida? E a roupa que compramos, em que condições socioambientais foi produzida? Para onde vão nossos resíduos? Por que razão já extinguimos quase metade dos biomas brasileiros? Eu contribuí com essa extinção? Como?
É nesse contexto em que o Antropoceno, a era em que o ser humano se torna uma força geológica que muda os rumos da Terra, também conhecido como ‘’a era da comunicação’’ tem como profunda marca o distanciamento da compreensão do que nós somos: primatas que acabaram de chegar nesse planeta e que dependem intrinsecamente do equilíbrio ecológico para aqui permanecer. Os impactos negativos desse distanciamento são sentidos por todos, humanos e não humanos, e são de forma ampla e consensual relatados exaustivamente pelos cientistas e pelos povos tradicionais. Mas esses relatos não atingem as grandes massas urbanas e, por conseguinte, os tomadores de decisões que precisam agradá-las. Assim, desenha-se um cenário de urgência, desafio e potência: precisamos, mais do que podemos imaginar, de comunicadores ambientalistas.