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HACKS: A MELHOR SÉRIE DE COMÉDIA DO ANO

Não é tão difícil esbarrar em excelentes produções no catálogo da HBO Max, mas excelentes produções nem sempre são irretocáveis. Hacks, no entanto, é.

Criada pelo trio Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, Hacks narra a história de Deborah Vance (Jean Smart), uma personalidade lendária por seu pioneirismo no stand up. Confrontada pelo tempo da sua idade que, ao passo que confirma seu prestígio na comédia, também desatualiza suas piadas, Deborah depara-se com a iminente ameaça da decadência profissional.

Jimmy (Paul W. Downs), seu agente, sinaliza a necessidade de modernizar seu repertório, e Deborah acata a sugestão, contratando, meio a contragosto, a também comediante Ava Daniels (Hannah Einbinder) como sua roteirista. A jovem de 25 anos vive dias improdutivos na carreira após ser “cancelada” por tweets inapropriados e perder o emprego.

De início, as duas não se gostam. Para Deborah, Ava é desinteressante e inexperiente, portanto inútil. Ava, por sua vez, especula sobre o caráter da comediante, julgando-a arrogante, insensível e esnobe. Em certo ponto, dada as personalidades já bem desenhadas, as diferenças parecem irreconciliáveis. E é justamente em torno do embate geracional que a narrativa se organiza, costurando comédia e drama em coerentes oscilações.

O enredo segue na direção do abismo de gerações, que projeta na trama uma energia cômica situada em múltiplas camadas. À medida que nossas percepções vão se densificando e os rumos dos eventos se descortinam, localizamos as complexidades agregadas às camadas e entrevemos seus aspectos emocionais.

A série apresenta piadas que fazem gargalhar. O texto ágil, inteligente e pertinente, é também ácido e reflexivo ao explorar tematicamente o tratamento das mulheres na indústria hollywoodiana, tendo como eixo articulador da crítica o assédio em clubes de comédia e a necessidade de constante reinvenção e reaprovação de carreira quando se é mulher. Ainda há, na camada mais profunda e existencialista, um retrato da solidão feminina.

Em Hacks, a solidão de Deborah esbarra na solidão de Ava. Duas mulheres, dois contextos, duas gerações, e um só encontro. O encontro do ano, eu diria.

 

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