Nunca consumi tanta informação. É que, tendo a comunicação como ofício, não me permito alegar desconhecimento do que acontece ao meu redor e falar do que não sei. Às vezes, a avalanche de notícias angustia, desespera. Noutras, paralisa pela gravidade do que tratam.
O que faço diante disto? Lanço mão de todos os recursos que tenho e dos que busco aprender para seguir consciente do meu papel no tempo em que vivo.
Houve quem me sugerisse a alienação como remédio: ” Não assista ou leia jornais”. Orientação médica, vale destacar. Por reconhecer o valor da ciência e, por conseguinte, ser imune à falácia da Ivermectina, Cloroquina e afins, desprezei a prescrição e continuo sem entender a postura de determinados médicos para com as vidas que juraram defender.
No entanto, em meio ao ensurdecedor barulho das más notícias, penso sobre o silêncio correspondente a todo esse estado de coisas. O que acontece com o que escapa às câmeras? O que dizem as entrelinhas? O que fica de fora dos roteiros de certas falas ou mesmo o que os orienta? Que vozes não encontram espaço para se fazerem ouvir? Por fim, penso no silêncio dos que sucumbiram por falta de ar. Penso nos parentes e amigos de vítimas da Covid- 19 . Como lidam com a dor da perda? Por onde ecoam seus lamentos?
Penso nos que seguem as medidas protetivas a todo custo ao tempo que observam a negação da vida no comportamento do outro. Por trás de uma máscara, assisto às máscaras que não se sustentam e deixam à mostra – muito mais do que os seus usuários possam imaginar – dependuradas nos queixos ou largadas em bolsas para servirem de álibi a um possível “esquecimento” de quem não teme a morte por ignorar o valor da vida.
Do meu lugar, tenho no peito, a dor de um grito abafado. Sem anestesia, sigo, lutando para que essa dor não ultrapasse a própria medida e se volte contra mim – como está sempre a me lembrar Paulo Mendes Campos. Resistir ao que investe contra a minha humanidade constitue o meu maior desafio.