Desde criança, encantada pelos filmes do Jurassic Park e sempre se imaginando como cientista, Giulia Sanches, hoje engenheira agrônoma e pesquisadora amazonense de Manaus, 24 anos, conta como os seus caminhos a levaram “por obra do acaso” a se encontrar na profissão e pensar no projeto “Feminagro” como precusor do empoderamento feminino nas ciências agrárias.
Giulia chegou a cursar Geografia e até conseguiu um estágio no 2º semestre como professora do ensino médio, mas ali ela viu que os caminhos que imaginou pra si ainda não eram aqueles. Aos 17 anos, prestou novamente o vestibular com foco em Agronomia e Geologia, assim, em ordem alfabética, pros dois cursos, não lembrou que caso passasse no primeiro, o segundo seria descartado. Passou no primeiro e o segundo foi descartado. E, assim, o acaso a levou pro seu sonho de criança.
“Eu não escolhi a Agronomia, foi o destino quem me levou pra ela e me fez aprender que talvez a minha missão profissional sempre foi trabalhar na base, seja na educação, como quando eu fazia licenciatura, quanto no setor primário, como agora na Agronomia”, afirma.
A ideia de unir o feminismo com a agronomia em seu projeto “Feminagro” veio após participar de dois eventos acadêmicos onde não havia a presença de palestrantes mulheres. A falta de representatividade lhe levou a criar o projeto, que tem como missão “desmistificar algumas ideias que a população de senso comum tem sobre as ciências agrárias, falar sobre as mulheres que fizeram e estão fazendo história nessa ciência e, principalmente, para falar com as tantas outras meninas/mulheres que estão fazendo Agronomia, que querem fazer Agronomia ou que já estão atuando na área”, segundo Giulia.
O Feminagro (@feminagro no Instagram) é um blog multiparticipativo, onde mulheres escrevem suas experiências e saberes sobre as ciências agrárias.
“O Brasil é um país muito forte no agronegócio, talvez as ciências agrárias sejam a nossa principal ciência e a sociedade sabe pouquíssimo sobre ela. Eu gostaria de democratizar esses conhecimentos”, completa.
Giulia também comenta sobre o ofuscamento de mulheres na área, destacando uma importante prática nomeada “Fixação Biológica de Nitrogênio”, um recurso natural em que as bactérias fixadoras se alojam nas raízes de plantas e fixam o Nitrogênio do solo para alimentá-las, mas na faculdade o nome de Johanna Döbereiner, a pesquisadora pioneira, não foi citado. “Imagina quantas estudantes poderiam ter se sentido empoderadas pela trajetória dela se a conhecessem?”, questiona.
Educação ambiental e desmatamento
A pesquisadora reflete sobre a educação ambiental no Brasil, onde a escola, que “deveria ser um ambiente de formação do cidadão, hoje é vista pela sociedade como um ambiente de formação de profissionais”, deixando de lado questões importantes como educação ambiental e direito civil.
Quando questionada sobre o desmatamento na Amazônia, Giulia reflete, “muitos dos autores de desmatamento da Amazônia não são pessoas da região e sim pessoas de outras regiões que vem algum potencial em produzir aqui, geralmente porque a terra é barata”. E justifica que “apesar da grandiosidade de biodiversidade vegetal, o solo amazônico é muito frágil se tirada a vegetação nativa e isso acaba por não suportar plantações consecutivas”.
“Infelizmente nossa sociedade foi lesada desse tipo de informação por anos e, portanto, está de mãos atadas quanto ao assunto. […] Não existe multa capaz de pagar para que uma área volte a ser como antes”.