O que o senso comum entende como poema ainda está muito ligado ao verso. Alguns artistas, porém, em um movimento experimental, resolveram romper com os versos e se lançaram em uma nova literatura ao criarem poesias visuais. É a imagem como literatura.
Concisão, poucas palavras, estrutura verbi-voco-visual (palavra, voz e imagem), descompromisso com pontuação e precisão são características da poesia concreta, arte contemporânea que surgiu nos anos 50. Quem originou e conduziu seus primeiros passos foram os poetas Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Os artistas guiaram o concretismo para o ano de 1956, quando a poesia concreta foi finalmente oficializada no Brasil com a realização da Exposição Nacional de Arte Concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
O Mural separou quatro poemas que demonstram o caráter da poesia concreta. Confira a seguir:
- beba coca cola, de Décio Pignatari
Clássico do concretismo, o poema beba coca cola, de 1957, explicita a influência da publicidade (que teve seu boom também na década de 50) no movimento ao fazer referência ao slogan da coca cola. Pode-se observar, ainda, o desfrute da sonoridade derivada da repetição e estrutura das frases.
2. Girassol, de Ferreira Gullar
Aqui verificamos o aproveitamento dos espaços em branco do papel, inovação característica da poesia concreta. No poema, a palavra gira, posta ao centro da página, dá uma noção de movimento que pede uma análise particular de cada leitor.
3. Pêndulo, de E.M. de Melo e Castro
Pra que escrever em linha reta, né? O poema criado com apenas uma palavra – pêndulo – é uma representação gráfica da palavra em uso e expressa o movimento pendular.
4. Gente, de Arnaldo Antunes
Preciso e direto, o poema brinca com o arranjo da palavra “gente” e localiza a palavra “et”. Ele é passível de diferentes interpretações, a exemplo do questionamento se os mistérios que nos rondam fazem de nós “ets”.