William Shakespeare, um dos nomes mais célebres da literatura mundial, faz aniversário amanhã, 23 de abril, sendo esta também a data de sua morte. A genialidade do autor atravessa barreiras culturais, e sua influência transcende os séculos, sendo sempre lembrado pela magnitude de sua relevância imortal.
Além de peças de teatro, o maior dramaturgo de todos os tempos também escreveu poesia. Em formato de sonetos, a expressão poética de Shakespeare narra sobre buracos filosóficos e contemplações comuns a todos nós, tais como amor e tempo. O Mural selecionou quatro poemas do escritor que confirmam seu talento extraordinário. Confira a seguir:
1. Soneto 12
Quando conto as horas que passam no relógio,
E a noite medonha vem naufragar o dia;
Quando vejo a violeta esmaecida,
E minguar seu viço pelo tempo embranquecida;
Quando vejo a alta copa de folhagens despida,
Que protegiam o rebanho do calor com sua sombra,
E a relva do verão atada em feixes
Ser carregada em fardos em viagem;
Então, questiono tua beleza,
Que deve fenecer com o vagar dos anos,
Como a doçura e a beleza se abandonam,
E morrem tão rápido enquanto outras crescem;
Nada detém a foice do Tempo,
A não ser os filhos, para perpetuá-lo após tua partida.
2. Soneto 18
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na eterna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
3. Soneto 5
As horas que suavemente emolduraram
O olhar amoroso onde repousam os olhos
Serão eles o seu próprio tirano,
E com a injustiça que justamente se excede;
Pois o Tempo incansável arrasta o verão
Ao terrível inverno, e ali o detém,
Congelando a seiva, banindo as folhas verdes,
Ocultando a beleza, desolada, sob a neve.
Então, os fluidos do estio não restaram
Retidos nas paredes de vidro,
O belo rosto de sua beleza roubada,
Sem deixar resquícios nem lembranças do que fora;
Mas as flores destilaram, sobreviveram ao inverno,
Ressurgindo, renovadas, com o frescor de sua seiva.
4. Soneto 122
Teus dons, tuas palavras, estão em minha mente
Com todas as letras, em eterna lembrança,
Que permanecerá acima da escória ociosa
Além de todos os dados, mesmo na eternidade;
Ou, ao menos, enquanto a mente e o coração
Possam por sua natureza subsistir;
Até que todo o esquecimento liberte sua parte
De ti, teu registro não se perderá.
Esses pobres dados não podem reter tudo,
Nem preciso de números para medir o teu amor;
Assim fui corajoso para dar de mim a eles,
Para confiar nesses dados que sobram em ti.
Manter um objeto para lembrar-te
Seria aceitar o esquecimento em mim.