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4 POEMAS DE CASTRO ALVES

O dia nacional da poesia comemorava-se, originalmente, em 14 de março, em homenagem ao aniversário de Castro Alves. A partir de 2015, a data mudou para o aniversário de Carlos Drummond de Andrade, em 31 de outubro. Embora já sem o título oficial, a data ainda é celebrada. E quando se trata da obra de Castro Alves, não faltam motivos para celebrar. 

O poeta baiano, principal nome do Condoreirismo (terceira geração da poesia romântica caracterizada pelo forte teor crítico e de denúncias socias, sobretudo à escravidão), ficou conhecido como o “poeta dos escravos” por ser um fervoroso defensor do abolicionismo. 

Comprometido, articulado e questionador, Castro Alves levava às linhas de seus poemas suas indignações e buscava promover mudanças sociais declamando seus versos em eventos e comícios. 

O poeta morreu cedo, aos 24 anos (1847-1871), vítima de tuberculose, mas nos deixou um legado poético farto e comovente, que deve ser estudado e celebrado pelo seu talento e engajamento social.

Em homenagem ao 14 de março, o Mural separou quatro poemas do célebre poeta. Confira abaixo: 

 

  1.  Ode ao 2 de Julho

Era no Dous de Julho

A pugna imensa

Travava-se nos cerros da Bahia…

O anjo da morte pálido cosia

Uma vasta mortalha em Pirajá.

“Neste lençol tão largo, tão extenso,

“Como um pedaço roto do infinito …

O mundo perguntava erguendo um grito:

“Qual dos gigantes morto rolará?! …

 

Debruçados do céu. . . a noite e os astros

Seguiam da peleja o incerto fado…

Era tocha — o fuzil avermelhado!

Era o Circo de Roma — o vasto chão!

Por palmas — o troar da artilharia!

Por feras — os canhões negros rugiam!

Por atletas — dous povos se batiam!

Enorme anfiteatro — era a amplidão!

 

Não! Não eram dous povos os que abalavam

Naquele instante o solo ensangüentado…

Era o porvir — em frente do passado,

A liberdade — em frente à escravidão.

Era a luta das águias — e do abutre,

A revolta do pulso — contra os ferros,

O pugilato da razão — com os erros,

O duelo da treva — e do clarão! …

 

No entanto a luta recrescia indômita

As bandeiras – como águias eriçadas —

“Se abismavam com as asas desdobradas

Na selva escura da fumaça atroz…

Tonto de espanto, cego de metralha

O arcanjo do triunfo vacilava…

E a glória desgrenhada acalentava

O cadáver sangrento dos heróis!

 

Mas quando a branca estrela matutina

Surgiu do espaço e as brisas forasteiras

No verde leque das gentis palmeiras

Foram cantar os hinos do arrebol,

Lá do campo deserto da batalha

Uma voz se elevou clara e divina.

Eras tu — liberdade peregrina!

Esposa do porvir — noiva do Sol!…

 

Eras tu que, com os dedos ensopados

No sangue dos avós mortos na guerra,

Livre sagravas a Colúmbia Terra,

Sagravas livre a nova geração!

Tu que erguias, subida na pirâmide

Formada pelos mortos do Cabrito,

Um pedaço de gládio — no infinito…

Um trapo de bandeira — n’amplidão!.

 

2. Canção do africano 

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo o seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão …

 

De um lado, uma negra escrava

Os olhos no filho crava,

Que tem no colo a embalar…

E à meia voz lá responde

Ao canto, e o filhinho esconde,

Talvez pra não o escutar!

 

“Minha terra é lá bem longe,

Das bandas de onde o sol vem;

Esta terra é mais bonita,

Mas à outra eu quero bem!

 

3. O gondoleiro do amor

Teus olhos são negros, negros,

Como as noites sem luar…

São ardentes, são profundos,

Como o negrume do mar;

 

Sobre o barco dos amores,

Da vida boiando à flor,

Douram teus olhos a fronte

Do Gondoleiro do amor.

 

Tua voz é cavatina

Dos palácios de Sorrento,

Quando a praia beija a vaga,

Quando a vaga beija o vento.

 

E como em noites de Itália

Ama um canto o pescador,

Bebe a harmonia em teus cantos

O Gondoleiro do amor.

 

4. Mocidade e morte 

Oh! Eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh’alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n’amplidão dos mares.

No seio da mulher há tanto aroma…

Nos seus beijos de fogo há tanta vida…

Árabe errante, vou dormir à tarde

A sombra fresca da palmeira erguida.

 

Mas uma vez responde-me sombria:

Terás o sono sob a lájea fria.

 

Morrer… quando este mundo é um paraíso,

E a alma um cisne de douradas plumas:

Não! o seio da amante é um lago virgem…

Quero boiar à tona das espumas.

Vem! formosa mulher—camélia pálida,

Que banharam de pranto as alvoradas.

Minh’alma é a borboleta, que espaneja

O pó das asas lúcidas, douradas…

 

 

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