Seria mentira dizer que todos os dias eu ia para escola com alegria e disposição. Também seria mentira dizer que eu adorava deixar minhas bonecas de lado para sentar em uma cadeira por horas tentando aprender sobre fração, físico-química ou as leis de Newton, principalmente quando eu era uma pessoa mais das revoluções industriais, república oligárquica e guerras mundiais.
Ainda assim, também seria mentira, e injusto, dizer que não tive professores se dedicando todos os dias para que química, física, geografia, biologia e matemática fossem mais fáceis de entender. Confesso que ainda hoje tenho dificuldade com alguns assuntos que me aterrorizavam nos tempos de colégio, mas não foi por falta de competência de quem se propunha a me ensinar.
Demorou, mas entendi que temos nossas aptidões, e talvez matemática, química e física nunca foram realmente para mim. Por isso, sou ainda mais grata aos meus professores sensíveis a compreender isso e orgulhosos dos seus alunos independente dos talentos apresentados por eles.
Rebobinando um pouco a fita, quero também deixar uma mensagem de carinho aos profissionais que seguraram minha mão mesmo quando o grande responsável por tirar meu sono era um livro de caligrafia. Por aqueles que, pacientemente, ensinavam crianças chorosas em busca de suas mães, insistindo para o grupo aprender a contar até dez, memorizar as letras do alfabeto e arriscar os primeiros rabiscos em um papel.
A criança dessa época mal sabia de todos os incríveis professores que encontraria ao longo da vida e sentiu o baque quando chegou a hora de mudar de escola pela primeira vez. No fim, ou no começo, esse caminho, muitas vezes cheio de altos e baixos, resultou em um futuro na universidade e uma bagagem impossível de ser esquecida na estação no ensino.
Dentro dos muros da universidade, mais uma vez são incontáveis os adjetivos para agradecer aos que me deram as boas-vindas e me conduziram por um caminho quase como o guarda-roupas que nos leva a Nárnia. Mostrando que quanto mais achamos saber, menos sabemos, e conseguir um diploma não é tão difícil assim, difícil é não perder a humanidade e a capacidade de sempre olhar para o outro enxergando muito além do que é externo.
E olhando para o outro, parabenizo não só os meus, mas todos os professores que não hesitaram em se reinventar e desenvolveram múltiplas habilidades para não deixar o ensino parar mesmo quando foram arrancados de suas salas de aula.
Do ponto de vista de uma aluna privilegiada ao longo de toda a trajetória estudantil, eu tiro o chapéu para os professores que enfrentam o sistema todos os dias e não baixam a cabeça quando tentam reduzir a educação à insignificância, ignorando o fato de sem ela nada ser capaz de funcionar. Como diz o poeta Bráulio Bessa “se um dia governantes prestassem mais atenção nos verdadeiros heróis que constroem a nação.”, tudo seria diferente e, assim como ele, eu sigo acreditando na força do professor. Por isso, mesmo com o fôlego em falta, a luta não para, e o troféu são os milhares de profissionais, que podem olhar para trás e dizer “aos meus professores, obrigado. Sem vocês eu não estaria aqui”.
Obrigada até mesmo pelas perguntas que ficaram sem respostas e serviram para me ensinar que não sabemos de tudo na vida, e existem coisas que é melhor nem saber.