Fortaleza, CE
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Messejana: quando muros e corações se vão

O cenário não é mais o mesmo para quem passa pela Rua Manuel Castelo Branco, uma das vias mais movimentadas de Messejana, distrito e bairro da capital cearense. Na esquina com a Rua Antônio Barros, lá pelo número 309, a memória de tantos habitantes do bairro se esvai pela inexistência do muro do “Murilão”, o Estádio Valter Lacerda.

Messejana assiste à destruição de mais um dos seus patrimônios históricos e afetivos. Nesta terça-feira, 4 de fevereiro de 2020, de dentro do ônibus, voltando para casa, pude observar alguns operários já executando o processo de modificação das estruturas do lugar. Um sentimento que aperta o coração e escorre pelos olhos.

O Murilão representa o sentimento de pertença da comunidade em volta, a alma do futebol suburbano, a história de tantos jogadores e carrega consigo o legado do Messejana Esporte Clube – este, que foi tema do último livro do poeta Edmar Freitas, “Messejana Esporte Clube: uma paixão azul e branca”. De acordo com a obra, a construção do Estádio Murilo Borges (nome de fundação) representa um dos pilares da consagração do time durante a década de 1960.

Em dezembro de 2019, moradores, historiadores e representantes de times de subúrbio da Messejana foram à Comissão de Cultura e Esporte (CCE) da Assembleia Legislativa em parceria com a Câmara Municipal de Fortaleza. Em audiência pública, de autoria do deputado Renato Roseno (Psol), defenderam a revitalização e o tombamento do estádio. Ainda assim, no último dia 13 de janeiro, a Prefeitura de Fortaleza interveio no muro que cerca o Murilão, com o objetivo de transformá-lo em mais uma Areninha da gestão Roberto Cláudio.

Eu não sei sobre jogos, futebol ou coisa parecida. Não estava nem perto de nascer quando o local que abriga o Murilão ainda era o “Campo do Messejana”. Para mim, aquele lugar faz parte da minha infância. Era onde os colégios do bairro costumavam se reunir para sair em marcha cívica no 7 de setembro. Parece ser uma memória tão pequena diante do que ele de fato é. Ainda assim, me agarro na lembrança. Provavelmente, as outras gerações não terão nem esse sentimento.

Como o futuro pode chegar sem que possamos compreender o passado? Resgatar a história e apresentá-la para as próximas gerações parece ser um discurso ilusório, capaz de ser lido – de maneira simplória – pelos próprios agentes do Estado como puro “saudosismo”. Quando finalizarem a demolição, não serão apenas estruturas destruídas. O afeto de cada messejanense estará junto, em cada ruína.

 

Foto de capa: reprodução/ Jornal O Povo

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