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Balanço

Há pessoas que gostam de ter suas vidas delimitadas por uma rotina, enquanto outras preferem viver algo novo todos os dias. Sempre me considerei uma dessas pessoas que gostam de viver o mesmo, de conhecer cada coisa a ser feita no dia seguinte, enfim, de ter uma rotina. De tal maneira que sabia exatamente a hora que meu ônibus passava, que horas precisava sair de casa e o que faria pelas semanas seguintes. Com o tempo eu só mudava algumas atividades, mas nunca deixava de colocá-las na lista da segurança e do controle que eu acreditava ter.

Só que nesse semestre alguma coisa mudou. Acordar no mesmo horário todos os dias virou quase uma tarefa impossível, tomar o mesmo café da manhã se resumiu em muitas vezes não comer nada por estar atrasada e precisei aprender novos horários de ônibus, já que os meus antigos continuavam com a mesma rotina, apesar de eu ter saído da minha. Muito além de outros horários, precisei pegar outros ônibus, sair da minha rota e conhecer lados da cidade pouco frequentados por mim. E eu, que pensei não ser mais uma pessoa de rotina, me vi em uma nova. E dia após dia ela foi sendo construída, se tornando parte de mim, até o percurso ser automático na minha cabeça.

Mas uma coisa interessante sobre nós, pessoas que gostam de rotina, é que também gostamos de surpresas de vez em quando. Uma pequena curva no caminho para enxergar novas realidades. Uma dessas surpresas veio para mim nas minhas andanças pelo novo, agora não tão novo, caminho. Enxergando o mundo lá fora por uma janela de ônibus não mais desconhecida. Com os olhos sonolentos de uma segunda-feira, avistei, em uma praça, uma menina que se balançava sozinha de um lado para outro. No lugar onde provavelmente muitas crianças brincavam em outros horários do dia, seus cabelos balançavam com a brisa do vento que a janela fechada não me permitia sentir. Ela ia e voltava, com um sorriso no rosto e uma praça com pessoas que pouco notavam sua presença. De alguma forma, aquela cena tão comum despertou algo em mim. Uma tranquilidade para o meu coração que estava tão agitado. Mesmo sem estar lá, pude sentir a brisa em meu cabelos, o som das árvores balançando junto e as conversas que possivelmente podiam ser ouvidas ao redor. Me lembrei de casa, minha verdadeira casa, que ia além do endereço onde hoje habito. Com uma simples brincadeira, que poderia ser rotina para aquela criança, me lembrei que o frio na barriga as vezes é bom, se permitir sair da caixa para que o vento desordene o cabelo e, as vezes, a vida, faz parte de um processo de crescimento necessário.

Nos poucos segundos que o sinal ficou fechado, aquele criança me lembrou que podemos balançar de um lado para o outro e logo em seguida parar com os pés firmes no chão. E nem sempre balançar é algo ruim. Até quem gosta de rotinas precisa aprender a se adaptar as singularidades da vida.

 

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