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Três décadas de Skank: “eu vou dizendo na sequência bem clichê – eu preciso de você”

 

 

Devia ter por volta dos meus seis anos quando ouvi pela primeira vez as músicas “Saideira”, “Acima do Sol” e “Tanto”. As faixas são da banda mineira Skank, formada por Samuel Rosa, Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti em 1991. Fiquei alucinada. Era pop, reggae, rock. Tudo junto e misturado. Nessa época, minha personalidade já dava sinais de que eu seria “a típica sagitariana”. Para prosseguirmos, é preciso voltar no tempo. Não tínhamos televisão, o entretenimento das tardes era vasculhar a coleção de CDs dos meus pais e colocar algum para tocar no aparelho de som. Encontrei, numa capa alaranjada, “pop rock III” – coletânea especial realizada por uma operadora de celular. Ao comprar R$ 30 de créditos, minha mãe adquiriu “sucessos do Cidade Negra, Jota Quest, Skank e muito mais!”. Ali, tudo mudou.

Lembro de passar a primeira faixa do CD bem depressa, não fazia bem o meu estilo. Pausa para dizer que escrevi a última frase rindo, pensando “meu deus eu só tinha seis anos”. Continuemos. A segunda música me deixou abismada. Uma mistura boa e alucinógena de saxofone, trompete, guitarra, bateria, teclado e baixo. Sinto o mesmo até hoje. “Saideira”, composta por Rodrigo F. Leão e Samuel Rosa, eleva nossos corpos para uma festa sensorial, transcendental, interminável. Os sons de cada instrumento penetram em cada orifício do corpo. Diria que deve ser quase impossível não sentir a passagem das ondas, mesmo elas abstratas. Trinta segundos de um instrumental complexo e uma vibração entorpecente antecedem os trechos:

“Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Quem é de beijo, beija
Quem é de luta, capoeira

Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem homem que vira macaco
E mulher que vira freira.”

Não sabia o que aquilo significava, mas me encontrei num mundo cheio de possibilidades. Essa atmosfera me trazia à vida. Sinto que foi assim. Na verdade, é. Parece que nada mudou.

“Saideira” é a décima primeira faixa do quarto álbum do Skank, o “Siderado” (1998). Gravado no estúdio carioca AR, foi produzido pelos ingleses Paul Raphs e John Shaw (um dos produtores da banda britânica “UB 40”) e mixado nos estúdios “Abbey Road” (sim, o dos Beatles). O trabalho conta com as já conhecidas parcerias de Nando Reis e Chico Amaral, mas também com Marcelo Yuka, do Rappa, Rodrigo F. Leão e o grupo instrumental Uakti.

Mais tarde, conheci outros trabalhos da banda e me apaixonei perdidamente por “Calango” (1994) e “Cosmotron” (2003), respectivamente segundo e sexto álbum de estúdio do Skank. Dois trabalhos completamente diferentes. Em “Calango”, a banda reverbera toda a influência do dancehall jamaicano. O disco, gravado no estúdio carioca Nas Nuvens, vendeu 1.200.000 cópias.

“Cosmotron”, meu favorito, fascina em todas as faixas com doses titânicas de poesia. Como o nome sugere, as músicas passeiam pela temática dos cosmos e das constelações. Temos, ali, filosofias sobre o amor, reflexões nômades, além de um olhar e uma escuta voltados essencialmente aos significados. O grupo se esvai dos excessos para dar lugar a um formato mínimo, maduro, potente. O álbum foi produzido e gravado no Estúdio Ferretti, sob a direção do produtor musical Tom Capone (que já havia trabalhado no álbum Maquinarama (2000). O disco venceu o Grammy Latino de 2004 na categoria Melhor Álbum de Rock Brasileiro.

Após quase trinta anos de música, experimentações, aglomerações, a banda anunciou um hiato – sem previsão de retorno. Como na canção “Balada do Amor Inabalável”, composta por Samuel Rosa e Lô Borges no álbum Maquinarama (2000): “eu vou dizendo na sequência bem clichê – eu preciso de você”.

 Conheça a Discografia do Skank:

 

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