A fila cresce aos poucos, as pessoas vão se reunindo, amigos se cumprimentam, todos se organizam e liberados vão entrando com o som de suas vozes se misturando ao som dos pés em contato com o chão. Inicia-se a busca pelo melhor assento, o local com visão privilegiada e a torcida para que a acústica seja boa o bastante para que se escute com clareza. As luzes vão diminuindo sua intensidade como forma de aviso para que as conversas cessem e os olhos se voltem para o mesmo lugar, chegou a hora do espetáculo começar. Então, o silêncio.
A descrição, por tantas vezes já vivida por aqueles que amam teatro, hoje se torna uma lembrança marcada pela nostalgia. A saudade de viver novamente as sensações que só um espetáculo ao vivo e a cores pode causar. Saudade da troca, da gente e do artista. E para esse último, o que torna esse momento tão especial? Essa é uma escolha que vai da perspectiva de cada um, da experiência do viver teatral, mas, para Paloma Arantes, o seu momento mais especial em uma apresentação é esse “o silêncio do começo, onde público e atores se conectam pela expectativa do que pode ser aquele encontro.”.
Paloma é atriz, formada em teatro pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e possui uma vasta experiência com teatro. Durante cinco anos ela se dedicou ao Teatro da Pedra, grupo artístico com sede no interior de Minas Gerais, fez parte do núcleo de pesquisa em dramaturgia do Galpão Cine Horto, teve textos publicados em revistas e também em um livro lançado pela editora Giostri. Atualmente, a artista tem se dedicado a estudar as possibilidades de discurso da palavra escrita na dramaturgia, prosa e poesia. Uma outra forma de apresentar Paloma, de acordo com ela, que talvez faça mais sentido para você e diga mais do que um currículo profissional, pode ser com a simples frase “o super cherry pop, pra mim, foi o melhor doce que inventaram”.
Como para muitas pessoas, principalmente os artistas que estão há mais de um ano sem as apresentações presenciais, Paloma considera que a pandemia tem sido o seu maior desafio até hoje, sobretudo por ter que vivê-lo em meio ao caos político do Brasil. “Além de pensar o teatro para um novo formato, pensar em sobreviver de teatro tem sido um desafio constante.”, aponta a atriz.
Apesar de ter sido mais difícil no começo, após um ano de isolamento Paloma tem conseguido criar mais, tendo a escrita como uma grande aliada, e usar isso como uma forma de reagir a todo o contexto que está sendo vivido. Ela também reforça o que mais tem feito falta em não se apresentar, “a presença física, os abraços calorosos do público e dos companheiros de cena no final de uma apresentação.”, pontua.
Para conhecer mais sobre Paloma e sua relação com o teatro, acompanhe a entrevista que o Mural da Ana Paula fez com a atriz.
MURAL DA ANA PAULA: O que levou você a se dedicar profissionalmente ao teatro?
PALOMA ARANTES: Sempre que penso em teatro penso na sensação de quando a gente aprende a andar de bicicleta sem rodinhas. A gente fica um tempo entendendo como fazer para pedalar, olhar pra frente e se equilibrar simultaneamente. A gente cai, levanta, tenta de novo, cai de novo e sempre que a gente sobe na bicicleta outra vez, aprendemos a nos equilibrar melhor e aí, a emoção de quando a gente freia, coloca os pés no chão e percebe que conseguiu andar sem cair, é inenarrável.
O teatro é uma linguagem de possibilidades e risco, a gente estuda, treina, erra, ensaia e quando o público entra, tudo pode acontecer. Acho que é por isso que escolhi estar envolvida com ele, pela possibilidade de brincar com a ficção e o real e estar sempre na iminência da queda.
MURAL DA ANA PAULA: Quais mudanças você apontaria na Paloma que iniciou lá atrás no teatro e a Paloma de hoje em dia?
PALOMA ARANTES: São tantas, desde a forma de me vestir até a forma de pensar. Mas uma coisa que tem mudado constantemente de lá pra cá é a minha relação com o tempo. Talvez por perceber o tempo no teatro como um fator primordial para pensar qualquer ação. Se eu demoro demais ou sou rápida demais a comunicação não funciona. E a vida não é isso? Uma busca constante para não perder o timing?
MURAL DA ANA PAULA: Quais são as suas principais inspirações dentro do teatro?
PALOMA ARANTES: Como tenho me aproximado das palavras vou citar algumas pessoas que li recentemente e têm me inspirado através de seus textos como Alexandra Badea, Grace Passô, Griselda Gambaro, Márcio Abreu, Ileana Dieguez e Michel Vinaver.
MURAL DA ANA PAULA: Em algum momento você pensou em desistir do teatro?
PALOMA ARANTES: Sempre penso. Viver única e exclusivamente de teatro não é uma realidade para grande parte dos artistas, estamos sempre nos desdobrando em outros trabalhos, seja dando aulas ou fazendo bicos nos finais de semana. Não gosto dessa romantização da ideia do que é ser artista, que o amor ao ofício tem que ser a qualquer custo. Quero viver com o mínimo de dignidade. Mais feliz se for fazendo teatro.
MURAL DA ANA PAULA: Se pudesse deixar um recado para você mesma no futuro, o que diria?
PALOMA ARANTES: Se eu pudesse deixar um recado para mim mesma no futuro, diria para eu ser mais generosa comigo e com os outros, não me cobrar tanto e que não preciso ter que ser ninguém além do que eu sou.