Pensados e construídos como obras de arte, descrevo assim os trabalhos desenvolvidos por Júlio Alcântara, fotógrafo e professor que se expressava artisticamente através de obras que dispensam explicações verbais, mas que manifestam muito das suas interpretações de mundo.
Entusiasta da curiosidade, Júlio começou a fotografar aos 19 anos. Autodidata, aprendeu sobre a técnica da fotografia queimando pestanas em livros e, mais tarde, aplicaria toda sua curiosidade e técnica no exercício de fazer da fotografia seu ofício. Formado em Comunicação Social, foi fotojornalista durante muitos anos. Integrou a equipe da revista Manchete, trabalhou para o jornal Correio Braziliense, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, revista Caras, Época, e jornal O Dia. Foi também professor de fotografia na Unifor, onde permaneceu durante 12 anos.
Em conversa com o Mural, Roxana, sua ex mulher, e Luís, seu filho, explicam que a fotografia tinha para Júlio um significado que excedia o trabalho. Era sua expressão no mundo, o sentido que ele fabricara para sua vida e que tinha função construtiva não só no âmbito profissional, mas também pessoal. Luis aponta que não existia Júlio sem fotografia. Era seu alimento. Roxana, por sua vez, observa a capacidade do artista de estar incluído em todos os seus trabalhos. “Quando nos conhecemos, ele me apresentou o trabalho dele e eu rapidamente falei: “isso aqui é você”. Ele ficou super alegre, porque ele está em toda fotografia, através de algum elemento”, conta.
Devoto à arte, Julio extraia desse universo muito do seu vigor criativo. Estudioso, gostava de ler sobre história e tinha fascínio por assuntos pontuais, como o Egito, tema que chegou a incorporar em suas obras. O estudo nutria sua arte, que por sua vez, lançava-o ainda mais fundo nas pesquisas. Essa dinâmica de trabalho atribuia à sua personalidade a qualidade de querer dividir as informações que absorvia com todos a sua volta.
Em sua obra “Hieróglifos”, nota-se a influência da cultura egípcia em alguns elementos adotados. Aqui interessa observar as peças que compõem a imagem, uma vez que estas fazem parte de um minucioso exercício criativo de Júlio. Em seu processo de criação, ele buscava objetos com os quais conseguisse dialogar e estabelecer alguma relação. Todo novo conhecimento que atravessava sua existência recebia caloroso acolhimento em sua arte e se refletia em suas obras. Mais do que simplesmente manipulá-los, Júlio entendia as minúcias do material que tinha em mãos.
Tamanha sensibilidade e habilidade inventiva somaram ao currículo do artista algumas exposições. O fotógrafo marcou presença no Ibeu, no Ceará, e está presente na Imã Galeria, em São Paulo.
Júlio se despediu da matéria em agosto de 2020 em decorrência de câncer pulmonar. Quando adoeceu, acabou desativando seu site, que só seria reativado após sua morte. Para a surpresa da família, constava ali um email da Van Gogh Gallery, localizada em Madri, Espanha. No corpo do email, um convite para Júlio levar seu trabalho até a exposição em Paris no final de janeiro. Trata-se de uma feira de arte contemporânea com artistas de diferentes países ali representados.
Para levar as obras de Júlio até lá, é providencial assumir custos referentes à impressão, acabamento e envio, além da taxa solicitada pela galeria. Por isso, Luís e José, seus filhos, organizaram uma vaquinha. No link a seguir você encontra mais informações sobre a exposição e sobre os custos. https://www.catarse.me/julio_alcantara_em_paris_34c4?utm_source=project_dashboard&utm_medium=copy_link&utm_campaign=project_share_simplified
Júlio já não pulsa em carne, mas sua jornada artística pede continuidade, como um movimento que não pode ser freado. Sua arte vive, e é nela que sua eternidade se afirma.
2 comentários
Belíssima matéria sobre o Júlio Alcântara, Ana Paula. Parabéns a você e equipe! Ele está vibrando, feliz, onde estiver. Bj
Marcela, adotemos o texto. Obrigada prla sensibilidade. Bj