Ao longo da vida colecionamos vivências que contribuem para nossa formação, seja profissional ou pessoal, e as muitas experiências que passamos como indivíduos são capazes de moldar a maneira como enxergamos o mundo a nossa volta e de que forma nos fazemos presentes nele. Uma das grandes belezas da existência humana é a capacidade de se reinventar, contribuindo para que continuemos cultivando sonhos e descobrindo novas paixões.
Um exemplo de uma mulher que sempre esteve disposta a aprender mais sobre si mesma é a jornalista e escritora Celma Prata. Na década de 1970, Celma cursou pedagogia e iniciou a vida profissional atuando na área, tendo experiência no setor público e privado. Mesmo atuando na pedagogia, ela ainda tinha muito o que explorar e esteve aberta para continuar aprendendo.
Ainda na infância, Celma já cultivava uma relação com a escrita, sendo uma criança que gostava de registrar experiências em diários, para ela escrever é uma “necessidade como respirar”. A presença constante da escrita na vida adulta veio quando já estava em uma fase mais madura e decidiu cursar jornalismo. Dentro do curso, Celma estudou e desenvolveu mais o lado da escrita, que ainda se revelaria muito após a formação.
Ao concluir o curso, Celma passou a ter mais segurança das técnicas narrativas não ficcionais aprendidas e decidiu lançar o seu primeiro livro. Intitulado Descascando a grande maçã, a obra relata a experiência que Celma viveu com a família durante o tempo que morou em Nova Iorque nos anos 1990, quando poucos brasileiros se aventuravam a morar em terras estrangeiras.
Após o lançamento da primeira obra, Celma também lançou um segundo livro de crônicas intitulado Viver Simplesmente. “Jornalismo e literatura são irmãos de temperamentos diferentes. O primeiro lida com a urgência, o segundo com a espera.[…] Enfim, sem falsa modéstia, escrever é para quem tem coragem.”, afirma Celma. E com esse pensamento, ela seguiu sua trajetória literária fazendo com que as duas paixões caminhassem juntas. O resultado foi a publicação do livro O Segredo da Boneca Russa.
A obra foi o pontapé para adentrar o mundo da literatura ficcional e, apesar de ser ficção, conta com uma narrativa marcada pela verdade. O livro é classificado como um romance policial e é narrado pela historiadora Joelle, filha de uma brasileira que se auto exilou em Paris durante a ditadura militar. A vida da moça muda quando ela descobre que a família guarda o segredo de um crime cometido durante o regime militar e Joelle tenta juntar as peças do quebra-cabeça.
O interesse de Celma por esse período da história brasileira surgiu ainda durante a faculdade de pedagogia, quando começou a questionar-se sobre a falta de liberdade vivida no país. Por ser de uma geração criada e educada durante o Regime Militar, ela não tinha muita noção do que vivia e muito menos podia discutir política dentro de casa.
Quando o golpe militar completou 45 anos, Celma já estava na faculdade de jornalismo e decidiu estudar mais sobre o assunto e acabou por produzir um radiodocumentário baseado nas músicas de protesto da ditadura. A temática permaneceu sendo estudada, o que resultou na publicação do livro O Segredo da Boneca Russa.
Para construir o Segredo da Boneca Russa, Celma mergulhou em muitas pesquisas, principalmente para a criação de personagens com essências diferentes da dela e vivendo em uma época da qual a escritora só tinha fragmentos de memórias. Um dos maiores desafios foi unir história e ficção, sendo capaz de desenvolver uma narrativa sem comprometer a veracidade dos fatos. “A narrativa de O Segredo da Boneca Russa está comprometida com a realidade, o que alguns críticos literários consideraram o ponto alto da obra”, afirma Celma.
Tendo muito de si em cada projeto a qual se dedica, Celma define-se como “Uma ativista literária. Uma pessoa ávida por conhecimento, aberta a mudanças, sensível, questionadora, feminista e inconformada com as injustiças sociais”.Vendo que a arte, a música e literatura são, muitas as vezes, a única forma de resistência em tempos de opressão, a jornalista e escritora acredita que as manifestações artísticas são capazes de conectar pessoas de diversas origens e isto é capaz de proporcionar uma maior compreensão do mundo. “Precisamos desses laços invisíveis que embelezam e dão sentido à nossa breve e finita existência.”, conclui Celma.
Um comentário
Celma Prata, mulher de sensibilidade e talento !!!