Parte 1 – O Antes de Linklater
Para dar início a nossa caminhada por essas trilogias poéticas, vamos começar com a Trilogia do Antes. Nas próximas publicações, passearemos pelas Cores de Kieślowski e pelo Eterno Feminino de Kar-Wai.
Existem algumas histórias que assistimos, ou mesmo lemos, que gostaríamos que durassem para sempre, certo? … Histórias que gostaríamos que nos acompanhassem durante toda a nossa vida, desenrolando novos capítulos e cenas, no mesmo compasso que os capítulos e cenas da nossa própria história se desenrolam também. Bem, uma produção audiovisual que dura para sempre, eu ainda não vi (o mais próximo seriam séries muito longas talvez?). Contudo, veja só que esplêndido: é possível dividir uma boa história em três ou mais películas, que para o nosso deleite, vão prolongar a saga dos nossos personagens favoritos por mais algumas horas. (E com sorte, podem sim, nos acompanhar pelo resto de nossas vidas, sempre que decidimos que é hora de revisitá-las, rompendo limites de tempo e espaço, eternizadas na memória.)
Fugindo um pouco das grandes franquias cinematográficas – que chegam a ter cinco, oito ou dez filmes – a partir de hoje, nessa coluna, também divida em três partes, vamos falar de outras três longas histórias: uma tríade de trilogias poéticas, que se você ainda não ouviu falar, vai ficar sabendo agora. Sejam bem-vindos a Trilogia do Antes, a Trilogia das Cores, e a Trilogia do Eterno Feminino.
O Antes de Linklater
Richard Linklater e o tempo. Conhecido por filmes como Jovens, Loucos e Rebeldes (1993) e Escola do Rock (2003), os meus trabalhos preferidos de Linklater são aqueles em que o diretor norte americano consegue retratar o passar do tempo com originalidade. Foi assim com a Trilogia do Antes, e com Boyhood: Da Infância à Juventude (indicado a alguns Oscar em 2015, incluindo a estatueta de Melhor Filme).
Em Boyhood, que não vamos nos estender aqui, o cineasta leva 12 anos para filmar e produzir o longa, propiciando ao espectador a experiência de acompanhar o crescimento e amadurecimento real de seus personagens. Literalmente da Infância à Juventude. Mas essa maneira única de Linklater de lidar com o tempo começa em 1995, com o primeiro filme de sua masterpiece: A Trilogia do Antes.
Nos três filmes desta série “Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia Noite (2013)” nós acompanhamos o casal Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), do momento em que se conhecem até o ápice de seu relacionamento, tão bonito quanto real. Filmados cada um com 9 anos de diferença entre si, é maravilhoso assistir aquele mesmo casal de jovens, virar um casal de adultos, e enfrentar as belezas e asperezas de compartilhar uma vida a dois.
Como diz Celine: “quando você é jovem, acredita que conhecerá muitas pessoas com quem se conectará, mas, mais tarde, perceberá que isso acontece apenas algumas vezes”. E é exatamente assim na trilogia do Antes de Linklater.
Nossa colega, e membro do Mural da Ana Paula, Marcela Canton, já comentou no blog sobre a Trilogia do Antes, deixo aqui o link para o texto dela.
Antes do Amanhecer
Antes do Pôr-do-Sol
Antes da Meia Noite
Curiosidades:
- Linklater se inspirou em sua própria história para o roteiro de Antes do Amanhecer. No auge de seus 29 anos, o cineasta conheceu rapidamente uma jovem durante uma viagem à Filadélfia. Na ocasião, o casal passou a noite inteira juntos, da “meia noite às seis da manhã”. Os dois perderam o contato, e durante as exibições de “Antes do Amanhecer”, em 1995, Linklater esperou que ela aparecesse, o que acabou nunca acontecendo. O que o diretor não sabia, é que, bem mais trágico do que o filme, a moça havia falecido em uma acidente no ano de 1994.
- Richard Linklater conheceu Ethan Hawke durante uma festa, através de amigos em comum. Após esse encontro, o diretor decidiu mostrar o roteiro da primeiro filme a Hawke, que pensou instantaneamente que tinha ganhado o papel. Mas, não foi bem assim. Ethan teve que participar das audições, e no final, acabou selecionado. Ainda bem.
- Tanto Linklater quando Hawke e Delpy, já explicaram que os filmes, mesmo parecendo tão espontâneos, são milimetricamente ensaiados;
- Os três longas estão disponíveis na HBO Max;
- Muitos espectadores torcem os narizes para a produção final, Antes da Meia Noite, por conta do choque de realidade apresentado pela trama, porém como é dito por Jesse: “Você quer amor verdadeiro? Então chegou o momento! Essa é a vida real. Não é perfeita, mas é real”. E talvez seja por isso, que essa trilogia é tão bem sucedida em retratar, como dito antes, o amor verdadeiro.
Na próxima coluna, vamos colorir esse Mural com as Cores de Kieślowski.