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Antes que os super heróis de hoje pudessem correr, os heróis chineses já podiam voar – três filmes para conhecer o Wuxia

Bem, levando em consideração que os filmes de Wuxia podem se passar em períodos da China dinástica antes de Cristo, a afirmação que intitula esse texto, é sim, verdadeira. Mas primeiro, o que é o Wuxia?

Esse gênero cinematográfico tem suas raízes na literatura chinesa, mas só veio ganhar as telas em mandarim ou cantonês, em meados da década de 20 do século passado. Misturando outros gêneros tipicamente chineses, e até influências de filmes de aventura e de western ocidentais, o Wuxia passou por um período de censura, onde assistiu a ascensão dos famosos filmes de Kung Fu. Assim como seus guerreiros determinados, e princesas intrépidas, o Wuxia ressurge na década de 60, dessa vez mais fantástico e violento. 

Para ilustrar o enredo que, geralmente, envolve honra, sacrifício e romances, os Wuxia abusam das cores vibrantes, de estonteantes cenas de voos de seus personagens, e de narrativas épicas e fantasiosas de uma China dinástica e surreal.

Num filme de Wuxia você vai se deparar não somente com heróis honrados, que lutam pela pátria, ou pela honra, é comum nos longas que as mulheres também assumam o protagonismo. No Wuxia, geralmente as princesas não precisam ser salvas. Elas são fortes, exímias lutadoras, dominam diversas artes marciais, e são espadachins mortais. As guerreiras dos filmes de Wuxia, mesmo que pareçam subordinadas e frágeis, são na verdade espíritos livres subversivos. 

Eu poderia continuar falando mais características, ou floreando o histórico dos filmes de Wuxia ou a semântica da palavra, sua relação com confucionismo e por aí vai… Mas ao invés disso, vou deixar para você três dicas de filmes para que você veja por si só o que é o Wuxia

O primeiro deles é certamente o mais conhecido de todos, o clássico: O Tigre e o Dragão (2000), dirigido por Ang Lee. O longa conseguiu a façanha de não somente ganhar um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas ainda levou para China as estatuetas de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Canção Original. Ufa!

O Tigre e o Dragão (HBOMax) conta a história de dois guerreiros (Chow Yun-Fat e Michelle Yeoh), em plena Dinastia Qing, que estão em busca de uma valiosa espada que acreditam ter sido roubada pela notória fugitiva Jade Fox (Cheng Pei-Pei). O enredo ainda aborda cenas épicas de voo e muita batalha nas florestas de bambu, como é clássico nesses filmes. O elenco traz também a sempre maravilhosa Zhang Ziyi e o recém ganhador do cavalo de ouro (uma espécie de equivalente ao Oscar para filmes em línguas chinesas) Chang Chen. Vale ressaltar que o filme possui uma continuação, de 2016, mas pelo que eu ouvi dizer não é tão boa assim, e nem é assinada pelo mesmo diretor.

Minha segunda indicação é o meu Wuxia preferido: O Clã das Adagas Voadoras (2004), dirigido por Zhang Yimou. A trama se passa na China do século 9, durante a Dinastia Tang, período em que a nação enfrentava conflitos e um governo corrupto. Nesse contexto, grupos rebeldes começam a se insurgir contra as lideranças, e o mais prestigiado destes é o Clã das Adagas Voadoras. Para tentar impedir os rebeldes, os oficiais do exército, Leo (Andy Lau) e Jin (Takeshi Kaneshiro) recebem a missão de capturar o líder do Clã, se infiltrando no grupo, e para isso tentam ganhar a confiança de uma das rebeldes, que, claro, tinha que ser interpretada pela mulher mais linda da China, ela mesma: Zhang Ziyi (de novo). Risos. Para você que gosta de plot twists, esse filme não decepciona. (Disponível no Hurawatch).

E para fechar, mais um de Zhang Yimou: Herói (2002). Aqui somos levados para China em meados dos anos 200 a.C., Dinastia Qin. O governante Qin (Daoming Chen) convoca Sem-nome (Jet Li) à corte por ter derrotado seus três maiores inimigos e adversários políticos: Céu (Donnie Yen), Neve Voadora (Maggie Cheung) e Espada Quebrada (Tony Leung Chiu Wai <3).  A partir daí, narrativas ilustradas por diferentes cores dão o tom da história. A primeira versão de como Sem-nome matou os inimigos é pautada pela cor vermelha; a versão do Rei é demonstrada por cenas em cor azul; e a última versão traz a cor branca como imperativa. Ainda há o verde, quando Espada Quebrada conta a história do seu passado. Resta ao público descobrir, assim como o governante, qual é a versão verdadeira. 

É importante observar nesse filme o trabalho de fotografia de Christopher Doyle, e claro, a participação dela: Zhang Ziyi, que também dá o ar da graça nesse longa tentando conquistar o amor de Tony Leung. Tarefa difícil porque quando Tony contracena com Maggie Cheung, é end game! (Disponível na Paramount+, AppleTV e OiPlay). Outro detalhe: Tarantino, com seu nome, deu uma ajudinha a lançar o filme em terras ocidentais.

Bônus: como eu não posso falar de cinema chinês sem citar meu herói pessoal, deixo uma quarta dica, o filme Cinzas do Passado (1994), dirigido por ele mesmo: Wong Kar-wai. Aqui tem Wuxia, Wong Kar-wai, os Tonys Leung (Chiu Wai e Kar Fai), Maggie Cheung, Leslie Cheung, Brigitte Lin, enfim, é um elenco de peso, com os maiores nomes da indústria de cinema chinês da época e ainda a direção de WKW e a fotografia de Christopher Doyle. (Hurawatch). Ah! Esse aqui não tem a Zhang Ziyi, viu? Provavelmente porque em 94 ela só tinha 15 aninhos de idade. Risos.

Referência.

 

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