Vanessa Passo: Quem é Ary Amorim?
Ary Amorim: Ary Amorim nasceu em 1989 numa família cearense. Ainda criança, construiu uma relação estreita com o livro, a leitura e a escrita e transformou-os mais tarde em objetos de estudo na graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e no mestrado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Vanessa Passo: Quando começou a escrever?
Ary Amorim: Eu sempre gostei de escrever, eu era a menina dos diários, das cartas, dos poemas, dos inúmeros cadernos sempre preenchidos com pensamentos que me saltavam ou de outros autores que eu topava de vez em quando. Eu tenho memórias fortes com a escrita, com a relação que eu desenvolvi com ela como forma de me salvar, de compreender, de experienciar a vida, mas a ideia de escrever romances, contos e contar histórias é uma coisa recente, de uns dois anos para cá, quando compreendi que assim como os autores que eu lia, eu também podia contar as minhas histórias.
Vanessa Passo: Quais gêneros você escreve?
Ary Amorim: Romance e conto.
Vanessa Passo: O que ou quem te inspira a escrever?
Ary Amorim: A vida de um modo geral é o que me inspira, e isso inclui as pessoas. Deus me concedeu um dom de ouvir as pessoas, elas, estranhamente, se sentem à vontade comigo e me contam recortes das suas vidas, segredos, confidências. Eu gosto de observar as particularidades das pessoas através dessa dinâmica e isso me inspira bastante, perceber que mesmo sendo da mesma raça, a Humana, somos completamente diferentes no nosso modo de existir, de sentir e de experienciar a vida. Certa vez, eu soube que uma determinada mulher, recém-casada e ainda jovem, havia perdido o seu marido devido a guerra e então passei a refletir sobre a viuvez, o luto, a morte e em como deve ser doloroso perder um grande amor. Naquele momento eu não sabia, mas ali estava nascendo a ideia do meu primeiro romance, A viúva Cabral.
Vanessa Passo: Como funciona seu processo de criação?
Ary Amorim: Normalmente, começa com uma ideia quase banal que nasce das minhas observações cotidianas. Depois disso, eu experimento a ideia ou o tema através da escrita para ver se ela cria raízes em mim, escrevo um conto, uma crônica, algo que me permita palpar. Se criar raiz, eu começo a pesquisar mais profundamente o tema e a estruturar a história que eu quero contar. Se não criar, eu aceito e abandono. Mas do início ao fim, eu pondero o efeito do tema em mim, pois a escrita é para mim também um canal de autoconhecimento.
Vanessa Passo: O que te motiva a escrever?
Ary Amorim: As histórias que nascem em mim. Eu gosto de vê-las fora de mim, indo ao encontro das pessoas.
Vanessa Passo: Já teve algum bloqueio criativo? Se sim, o que você fez para superá-lo?
Ary Amorim: Vários. Normalmente, eu uso as artes para oxigenar o meu cérebro. O cinema, por exemplo, é muito inspirador, ótimo para quebrar o bloqueio criativo. Eu tento não forçar o meu cérebro a criar, eu o oxigeno e ele faz o trabalho sozinho.
Vanessa Passo: Agora, nos fala um pouquinho sobre as obras que escreveu.
Ary Amorim: Recentemente, eu lancei por financiamento coletivo o meu primeiro romance, A viúva Cabral, que atingiu mais de 100% da meta do financiamento. A viúva Cabral é um romance de época ambientado no Ceará cuja narrativa se passa na cidade fictícia Assunção, inspirada na Fortaleza do século XIX, no período da Bèlle Époque. O luto, a solidão e a paixão são o que rege a história junto com outros temas que entrecruzam a trama. Esse romance nasceu da minha paixão por romances de época e pelo meu desejo de contar uma história que se passasse no Ceará, meu campo afetivo. Alcançou leitores do Brasil e fora do país. É uma obra muito especial. O meu segundo romance também será um romance de época e terá como tema o Destino. Ele está em construção, mas posso dizer que ele traz personagens exóticos como um pirata-cigano. Estou animada!
Vanessa Passo: Para você, qual a importância da leitura?
Ary Amorim: Para mim, a leitura, além da sua importância pragmática, de nos elevar enquanto seres pensantes e reflexivos, nos anima a alma, nos diverte, nos dá esperança, nos ensina sobre nós mesmos, sobre o outro, sobre o mundo, sobre a vida. A leitura é umas das poucas atividades que nos abarcam completamente, que alcança todas as ramificações da nossa existência.
Vanessa Passo: Qual mensagem você quer deixar para os seus leitores?
Ary Amorim: Que enquanto eu puder, construirei uma ponte entre nós, através das histórias que me habitam.