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Quando tentam censurar a imprensa, tentam matar a democracia

 

 

 

 

O dia 03 de maio foi escolhido pela UNESCO como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Criada em 1993, a data tem como objetivo expressar a importância de uma imprensa livre e alertar sobre as impunidades cometidas contra jornalistas que muitas vezes sofrem perseguições ao apurar e publicar informações.  

Contudo, ao longo dos 27 anos em que a data existe, me parece que fica cada vez mais difícil manter os profissionais da imprensa livres de ataques estimulados pela incapacidade que as pessoas têm em lidar com a verdade que foge daquilo em que tanto querem acreditar. 

Em um texto publicado pelo The New York Times em 2019, o jornalista A. G. Sulzberger compartilhou a preocupação diante do cenário global em que a imprensa virou o principal alvo de ataques ao tentar fazer o seu trabalho, manter a sociedade informada. É como se, bem diante de nossos olhos, surgisse um movimento em que pessoas e governos tentam descredibilizar o trabalho dos jornalista e utilizar meios, muitas vezes violentos, para silenciá-los. 

Saindo do panorama mundial e olhando para o nosso próprio país, o Brasil, é possível observar em território nacional o crescimento constante deste movimento. No dia 03 de maio de 2020, exatamente no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, profissionais de um veículo de comunicação foram agredidos fisicamente e verbalmente ao fazerem a cobertura de uma manifestação política durante um período que deveria ser de isolamento social em virtude de uma pandemia causada pelo COVID-19. No entanto, o fato que gerou mobilização de diversos veículos de comunicação, não é um acontecimento isolado. Nos últimos meses os ataques têm sido constantes, chegando ao ponto de jornalistas ficarem impedidos de realizarem seus trabalhos ao serem hostilizados por parte da população quando saem para cobrir pautas nas ruas. 

Ainda assim, não é de hoje que a imprensa vê escapar por suas mãos o direito de informar. Um relatório divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) revelou que no ano passado o número de ataques aos veículos de comunicação teve um aumento de 54% totalizando 208 casos, foram 114 casos de descredibilização e 94 de agressões. Além das agressões diárias cometidas aos profissionais que trabalham fazendo coberturas nas ruas, também existem os ataques nas redes sociais. O relatório Violações à Liberdade de Expressão, divulgado anualmente pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), mostrou que em 2019 a mídia profissional sofreu 11 mil ataques por dia através de rede sociais, representando uma média de sete agressões por minuto. 

Mas para onde caminha uma sociedade onde a imprensa não tem liberdade para trabalhar? Bom, é um assunto complexo para ser explicado e provavelmente minhas palavras não seriam suficientes para fazê-lo ser entendido, por isso farei uso de uma frase dita pela pesquisador e professor de jornalismo Jorge Pedro Souza, “Nenhuma democracia sobrevive sem uma imprensa livre, e nenhuma ditadura sobrevive com imprensa livre”. 

Ao tentar calar os profissionais da imprensa, tenta-se cortar um dos principais instrumentos que a sociedade tem para receber informações fundamentadas em fontes, pesquisas e dados. O ataque contra jornalistas e demais profissionais da imprensa é um ataque ao direito de saber, ao acesso a informação checada com o objetivo de garantir a veracidade e um ataque aos valores essenciais para uma democracia. 

Apenas com a imprensa livre, é possível garantir o direito democrático da sociedade de ter acesso a informações e terem seus próprios pensamentos a partir delas. É através da imprensa livre que o povo ganha voz. É através da imprensa livre que mudanças podem ser promovidas. 

Não estou estou dizendo que a mídia representa um exemplo perfeito. Longe desta visão utópica, erros são cometidos. Mas existem inúmeros acertos e profissionais comprometidos com a verdade ao ponto de arriscarem sua próprias vidas para levá-la a público. 

Muito mais que o direito no papel, os profissionais merecem o direito real de exercerem suas profissões. Se o povo não estiver disposto a voltar para o período em que tudo era escuridão, é importante que também se junte a essa luta.

 

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