Esses dias eu estava participando de uma gravação para um projeto, quando começamos a conversar sobre propósitos e se realmente vivíamos de acordo com o que queríamos ou se como os outros esperam que queiramos. Sem dúvidas, não é uma discussão fácil de se chegar ao fim, uma vez que cada um tem suas próprias vivências e percepções de mundo, mas naquele momento, e refletindo posteriormente, conclui que vivemos muito mais a vida dos outros do que a nossa própria.
Não me cabe aqui analisar a situação do ponto de vista da psicologia, já que é uma área sobre a qual não tenho domínio algum, mas trago minha visão a partir do contexto em que estou inserida e reduzo para um recorte tão presente em nossas rotinas: as redes sociais. Sim, de fato, passamos horas e horas imersos nas redes, uns por trabalho outros por passatempo, estamos lá. E temos estado mais ainda desde que ficamos trancafiados dentro de casa por meses e meses. A questão que ponho aqui, e não é uma novidade, é sobre como as redes sociais impactam nossa forma de viver a vida. Como elas impactam a forma que enxergamos a nós mesmos. Como elas impactam aquilo que acreditamos ser nossos sonhos.
As redes sociais estão cheias de pessoas compartilhando suas vidas, alegrias, conquistas e, às vezes, tristezas. Rolando rapidamente pelo feed do instagram, ou outro aplicativo, encontramos sorrisos, mensagens motivacionais e conquistas extraordinárias que nos levam a questionar: “será que estou fazendo as coisas certo mesmo? Por que minha vida não parece ir para a frente?” Não quero generalizar, talvez você nunca tenha pensado isso, mas eu sei que eu já e também sei que muitos amigos pensaram o mesmo.
De certa forma, é como se ver uma menina multimilionária aos 18 anos diminuísse tudo o que um trabalhador de outra área fez para chegar aos 30 anos com uma certa estabilidade financeira. Sempre achamos que o outro conquistou mais, que foi mais fácil, que foi mais rápido… Queremos saber quando teremos os destaques do nosso perfil cheios de viagens ao redor do mundo, Maldivas, Paris, Cancún, Fernando de Noronha… Queremos saber quando, ou se, sairemos na capa de uma Forbes Under 30… Mas quantas vezes paramos para pensar no que realmente queremos? No que nos move? No que no fim da vida vai nos fazer olhar para trás e sentir orgulho da nossa trajetória?
Será que colecionar viagens ao exterior, no mínimo duas vezes ao ano, é algo que desejamos porque sonhamos em conhecer o mundo ou porque queremos deixar o nosso perfil na rede social atrativo? Será que estamos dispostos a perder almoços, aniversários e natais em família para trabalhar incessantemente “enquanto eles dormem” para mostrar que aos 25 anos somos donos de casas milionárias e carros de luxo? Se você sabe, no fundo da sua alma, que é realmente essa vida que você sonhou, não estou aqui para julgá-lo. Mas se você por algum momento já parou para pensar onde sua corrida desenfreada está te levando, talvez você esteja longe de viver a própria vida.
Não há nada de errado em querer estabilidade financeira, em querer viajar, em querer viver uma vida confortável, mas há muito de errado quando nos submetemos a pressão psicológica de nos sentir inferior por não conseguir tantas conquistas quanto nossas inspirações exibem ou, simplesmente, nos colocamos dentro de uma caixa porque alguém nos disse que prestar concurso público é melhor. O fato é que a vida não acontece igual para todo mundo e, por mais clichê que seja, tudo tem seu tempo.