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“CONFINADOS”: CELMA PRATA NO PRÊMIO JABUTI

Celma Prata: o romance do jornalismo com a literatura | Ensinando e  Aprendendo | G1

Há dois anos, o mundo em que nos é dado o pulso nos ilustra com a informação da perda, do medo e da dor. A Covid-19, em sua voracidade de níveis catastróficos, incorporou aos dias dos últimos anos densas camadas de obscurantismo. Como enxergar através da névoa turva? Como absorver a tragédia sem se deixar ruir? Há quem decida pela negação do grau de realidade, e há quem se entregue à percepção imediata do presente. 

Celma Prata, jornalista e escritora, embora tomada pela tristeza causada pela perda de sua única irmã para a Covid-19, não se fechou para a sua capacidade de percepção. Enxergou na literatura um ponto de ancoragem para suportar a perda e se pôs a escrever “Confinados”, sua primeira coletânea de contos.

O livro, lançado em 2020, apresenta narrativas que trazem conflitos suscitados pelo isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19. Em uma ode à escuta, as histórias evocam uma consciência que aponta para percepções mais profundas acerca de uma realidade de sutil excesso, expondo a fragilidade de tudo o que toca o humano e ruminando o sentido da existência. 

Carregado de poesia em sua composição e potente em seu significado, o livro levou o nome de Celma ao Prêmio Jabuti 2021, a mais célebre honraria dedicada à literatura. Em conversa com o Mural, a escritora compartilhou o sentimento de ter sido indicada e integrado a lista de finalistas do Prêmio Jabuti: 

“Senti-me abraçada, confortada, reconhecida. Ter meu livro entre os dez melhores é motivo de muito orgulho. O selo “Livro Finalista Jabuti” é eterno, afinal trata-se do maior prêmio literário brasileiro, nessa edição com quase 4 mil obras inscritas. Partilhei a conquista com outras mulheres escritoras nordestinas, publicadas por editoras independentes.”

Importa dizer que o Prêmio Jabuti vem promovendo uma maior diversidade em seu regulamento, buscando inclusão e representatividade. Celma avalia o movimento de instituir representatividade de minorias como uma questão de justiça: “Não só no Jabuti, mas em todos os setores da sociedade. É uma longa e constante luta, é conquista, não é presente. No caso da participação feminina no Jabuti, fomos maioria nessa edição. Vamos continuar produzindo, escrevendo e buscando espaços.”

No que tange a sua escrita, é notório que Celma se apropria com excelência do gênero Conto, ainda que suas obras anteriores tenham sido crônicas e romance. Quanto às suas experiências literárias, a escritora oferece a perspectiva de que as narrativas dialogam entre si. “Gosto de experimentar, não me prendo muito a teorias, inspiro-me em autores contemporâneos e sigo minha intuição. No momento, construo algo ainda não definido, uma novela ou um novo romance.”

Celma Prata, com seu alegórico e catártico “Confinados”, mobiliza um olhar para o caldo complexo de novos pertencimentos e aprendizados que nos atravessam no cenário pandêmico, promovendo um aprimoramento no enfrentamento às questões que acompanham o isolamento ou simplesmente estimulando um olhar mais atento à realidade que nos circunda. As respostas são múltiplas, processuais e nos oferecem compreensões que cruzam as linhas da literatura, ao mesmo tempo que confirmam sua função transformadora, como assinala Celma: 

“A literatura é essencial à existência humana. Ela aproxima pessoas, cria vínculos, leva à compreensão do mundo. É capaz de alcançar todos os diferentes credos, opiniões e modos de vida.”

Retirar-se das urgências é um luxo que não alcança os escritores. Celma, em seu livro-gesto de amor contra a perda, levanta as mangas e os tapetes, varrendo para a luz sensações e dormências, num movimento de desatrofiar percepções.

 

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