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No vai-e-vem da quarentena

Nos últimos dias em que as paredes de casa assumiram seus reais papéis de delimitadoras,  eu, que nunca fui muito boa em matemática, fiz questão de perder as contas das horas, dos dias e daqueles que viraram só mais um nos dados contabilizados pelos noticiários. 

Mas é claro que não é tão simples assim controlar meus pensamentos. Se fosse, certamente já teria pedido para ir a um lugar fora da realidade e escapar do que não consigo armazenar em mim. Entre os desejos utópicos, pareço estar manuseando o “vai-e-vem”, um brinquedo da minha infância em que duas pessoas ficavam em lados opostos, seguravam as pontas de um barbante e esticavam os braços com o objetivo de fazer o objeto central – geralmente uma garrafa – se movimentar para os dois lados. No meu caso, existem duas versões de mim em cada uma das extremidades e no meio, minha própria vida.

Há dias em que acordo com a energia de revolucionar o mundo e em outros me pergunto qual a razão de colocar tanto esforço em um projeto. As vezes escolho a música mais animada da minha playlist para cantar a plenos pulmões, mas em outras ocasiões aperto o play em uma canção bem mais parecida com a trilha sonora do momento. Tem dias em que me aventuro na cozinha, outros em que escolho o primeiro alimento congelado que encontrar pela frente. Claro, de vez em quando também tento viajar pelas histórias de muitos livros, mas em certos instantes a fantasia mostra a realidade mais do que deveria. 

A única coisa que ainda não deixo vagar pelas ruas do desânimo, é a necessidade de escrever. Pode ser o menor texto possível, no bloco de notas do celular ou em um caderno reservado só para meus devaneios, mas ainda preciso colocar em palavras o que tenho dentro de mim. Dessa forma consigo me sentir viva e enxergar partes de mim que só aparecem em forma de palavras. 

E durante os momentos mais intensos dessa montanha russa, escolho lembrar novamente dos números que minha mente se esforça para esquecer. 

Nos últimos dias em que as paredes de casa assumiram seus reais papéis de delimitadoras, tenho aprendido a lidar com minha própria companhia e respeitar os limites que me fazem humana. Que me fazem eu.

 

 

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