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Ser Mulher

Ser mulher é gerúndio. Ainda é gerúndio. Porque ainda estamos nos fazendo, nos aprendendo mulher, nos entendendo mulher, nos colocando enquanto mulher. E ainda há muitas de nós sem casa em si: sem poder conhecer sua própria sexualidade, seus próprios desejos, sem poder passar tempo com o que sonham e com o cultivo de si necessário para que sonhos possam nascer. Ainda há muitos “sem” e “nãos” no ser mulher. E se todos os corpos são políticos – porque carregam em si marcações sociais e culturais – o corpo feminino é o mais político de todos.

Porque há as de nós com vagina e sem vagina, porque há as de nós que já tiveram muitos orgasmos e há as de nós que nunca vivenciaram este tipo de êxtase, porque há as de nós que, até sem perceber, obedecem violentamente o que é imposto e há as tantas de nós que sentem-se reprimidas e oprimidas e experienciam em si um vazio que não sabem nomear. Porque nossos corpos são sempre submetidos à ditadura do belo padrão, porque nossos corpos são sempre invadidos: com olhares, opiniões, toques, julgamentos e colocações midiáticas.

Ser mulher é ter o corpo sempre atravessado pelo existir social: não há trégua. Não há um espaço, um momento, um lugar no qual não se seja lembrada que se é mulher: das pequenas às grandes coisas a resposta de nossos porquês cotidianos vêm sempre com a conclusão última subentendida: porque você é mulher. E a gente entende o que se quer dizer com isso, o que vem no grande pacote de se ser mulher. Por isso, a consciência primeira necessária, mulher, é a de abraçar a si mesma, para compreender assim os abraços necessários às outras de nós.

Para se ser mulher dentro de todos os formatos possíveis, para se quebrar as molduras impostas, para se rasgar as estruturas violentas que nos restringem e achatam e acuam, para que esse gerúndio que estamos sendo torne-se verbo posto, imperativo categórico, norma e lei de liberdade própria. Ser mulher ainda é muita coisa. Mas a luta existe para que chegue o dia em que ser mulher seja qualquer coisa que a mulher queira ser. Para que cada ser que reverbere em si o feminino possa ser verdadeiramente livre em seu caminho, escolhas, sonhos e lugares.

 

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