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O que sobrou de nós

Quando as luzes se apagam, as cortinas fecham e os olhos descansam, minha mente fervilha de questões e me afastam do sono. Dentro do meu orgulho, preciso confessar nestas linhas, que mais poderiam ser em forma de carta, mas prefiro as fazer como crônica solitária, que não canso da tentativa de descobrir as sobras de nós dois.

A incompreensão da roda gigante fez da brincadeira sentimento, quando mal sabia que na verdade nada existia e tudo hoje me cabe como um grande jogo sem respostas, no qual a certeza é que perdi. São tantas as dúvidas jamais sanadas, ainda que a principal é se tu alguma vez me amou por ao menos um segundo sequer, se acreditou na história que mesmo criou e pensou que não me vitimaria.

Vago na memória tentando resgatar a minha decência que parece ter ficado esquecida como as rosas que te ofereci, quando meu coração ainda era terra fecunda e infelizmente não foi semeado tornando agora solo seco. Tudo parece ter esgotado, inclusive a cachoeira que imaginava te banhar o sorriso e refrescar a morena pele do calor.

Já quase em sonho, subo no meu cavalo bravo e saio a galopar na noite à procura do que sobrou de mim, de ti, de nós, mesmo entendendo que esse pronome não cabe neste texto. Na verdade, nem deveria existir, como toda essa dor e sofrimento de um coração partido. Sim! Bato no peito e como no ato de contrição, admito a culpa de me pôr cego diante evidências para acreditar em dizeres que já não condizem com a narrativa atual.

Muito poderia ter sido evitado choros, granadas, porres, sonhos e dissabores. Não te culpo por ser quem és, ao contrário, quando te olho suspiro um alento de entender o motivo de ter permitido por ti sentir algo. Agora não posso te isentar da culpa das mentiras que desdobram em ilusões imaturas assistidas em folhetins de televisão.

Acordo e penso no enfrentar mais um dia, de notar que teus olhos não são meus e nunca foram, por mais que eu quisesse. É a vida e ela me mostra em mais um amanhecer que não foi permitido que sobrasse amizade ou carinho qualquer, pois eles ainda estão submersos em meia dúzia de mágoas, descrenças e um livro da Hilda Hilst, que para tentar te esquecer, não terminarei de ler.

por Heitor de Almeida

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