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A Ferro e Fogo

Início dos anos 70. Em seu quarto, uma menina chorava e fazia de tudo para não ouvir os gritos dos filhotes de porco (bacurim). A castração na época era feita sem anestesia. Os pequenos animais gritavam de dor e a menina, na tentativa de tapar os ouvidos e não ouvir aquela agonia, botava o lençol na cabeça. Ela não sabia muito sobre o porquê de aqueles filhotes gritarem tanto de dor, mas ela se sentia frustrada por não poder ajudá-los.

Aquele procedimento era corriqueiro em sua casa. A menina temia a visita periódica daquele homem, que parecia trazer a dor nas mãos. Ele lhe cumprimentava sorrindo e ela se escondia na saia da avó, o único lugar seguro naquele instante. Ela sabia que a qualquer momento ia ouvir os pedidos de socorro vindo em forma de gritos e choro dos animais. O mais forte da ninhada não passava pelo processo de castração: ele era escolhido para procriar, enquanto que os outros, a partir daquele episódio, iam ser alimentados para ficarem gordinhos e atrativos para a venda.

Naquele tempo, os animais eram vistos apenas como fonte de renda. O cachorro seria guardião da casa e em troca, ganhava comida e uma morada. Mas quando ficasse velho, seria substituído por um mais novo. Se tivesse algum gato, era só fora de casa e na hora da fome que fosse caçar.

O gado era marcado com um ferro quente, que ia ao fogo até ficar da cor da brasa. Quando isso acontecia, o ferro era prensado contra a pele do animal, com as iniciais do seu dono. Geralmente, essa marca é feita na face ou na perna, abaixo do ventre, para não desvalorizar o couro na hora da venda. O sofrimento do animal é visível, a dor exposta em seus olhos arregalados, narinas dilatadas. Muitos deles babam e berram em momentos elevados de estresse.

Estamos em pleno Século XXI, a menina cresceu e com ela, a indignação diante do sofrimento dos animais. Ela se incomoda ao ver pets presos em alguns pet shops, onde eles ficam em gaiolas de dia, submetidos ao frio de um ar-condicionado, tremendo e sofrendo aquelas intempéries. À noite, quando a loja fecha, eles são recolhidos como mercadoria e são trancados, para que no outro dia o ciclo se repita e eles sejam novamente expostos à venda.

Esses são só alguns exemplos de maus tratos que são diariamente cometidos com os animais. Mas a menina sabe que, no meio desse terror, existem pessoas que lutam para mudar a sorte desses seres que sentem dor, medo, frio, calor, mas não sabem como falar. Em algum lugar, alguém tem piedade com o sofrimento deles, e foi a partir dessas pessoas que surgiu a Lei de Proteção aos animais. Ela ainda não abrange todos eles, mas já é um começo.

Como diz a parábola do beija-flor, que no meio do incêndio pegava água e jogava para apagar o fogo e, quando questionado por que fazia aquilo se sozinho ele não conseguiria jamais apagar as labaredas, ele respondeu: “estou fazendo a minha parte”.

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