Vanessa Passos: Quem é Yara Fers?
Yara Fers: O que realmente sou é escritora. Essa relação com a palavra me define. Mas também sou uma pessoa que quer mudar o mundo, que ama viajar, mãe de gatos, que não tem medo de mudanças.
Vanessa Passos: Quando começou a escrever?
Yara Fers: Meu primeiro poema escrevi aos oito anos de idade, influenciada pela leitura dos poemas do meu pai.
Vanessa Passos: Quais gêneros você escreve?
Yara Fers: Sou principalmente poeta, pois a escrita de poemas é o mais constante em mim ao longo da vida. Mas também recentemente comecei a me aventurar pela prosa, escrevendo contos e crônicas. Neste momento estou me dedicando a escrever meu primeiro romance. Os elementos poéticos geralmente atravessam minhas prosas.
Vanessa Passos: O que ou quem te inspira a escrever?
Yara Fers: As coisas que me incomodam geralmente são as que mais me levam de imediato para a escrita: raivas, medos, traumas, dores, questões sociais que me afligem. A nossa escrita é filha do tempo em que vivemos. E os tempos atuais são cruéis.
Vanessa Passos: Como funciona seu processo de criação?
Yara Fers: Eu escrevo todos os dias, seja a partir de exercícios de escrita, oficinas, ou trabalhos que já estão iniciados, como o meu romance.
Para mim, o melhor horário para escrever é pela manhã. Sempre escrevo à mão, em pequenos cadernos sem pautas.
No romance estou recorrendo mais ao computador, apenas iniciando o processo de escrita no papel e depois desenvolvendo no computador.
Eu edito muito meus textos, recorto, lapido, altero, brinco, até que nasça algo novo.
Vanessa Passos: O que te motiva a escrever?
Yara Fers: Eu escrevo para construir laços com o mundo e com as pessoas. Acredito que a literatura pode promover transformações. Por isso, creio em uma escrita essencialmente revolucionária, que abale sempre alguma estrutura, exponha algum nervo social ou humano, promova reflexões.
Vanessa Passos: Já teve algum bloqueio criativo? Se sim, o que você fez para superá-lo?
Yara Fers: Sim, diante do stress de um lugar em que eu trabalhei. Quando saí desse trabalho acabou o bloqueio.
Vanessa Passos: Agora, nos fala um pouquinho sobre as obras que escreveu.
Yara Fers: Sádica sílaba é meu primeiro livro, publicado pela Editora Patuá, com poemas escritos ao longo de alguns anos nos quais eu ainda não publicava. Nele há textos que versam sobre a aspereza do mundo e do trabalho, outros dedicados a pessoas queridas, alguns com temática erótica ou mais sensorial, e ainda poemas metalingüísticos, que versam sobre a própria poesia.
Desmecanismos é uma experiência completamente diferente, uma autopublicação em formato artesanal e e-book. O artesanal traz muito de mim em cada detalhe do livro, com bordados, colagens, encadernação costurada, tudo feito pelas minhas mãos. Os poemas presentes em Desmecanismos investigam os funcionamentos do mundo, das máquinas, das coisas vivas e do próprio poema. E coloca esses funcionamentos em choque uns com os outros.
Meio magma, meio magnólia é um outro livro que está em processo de edição pelo Selo Auroras, da Editora Penalux. Nele há poemas que trazem as dores e trincheiras das mulheres, tratando nossas batalhas de forma coletiva através do verso. Deve sair no início de 2022.
Há ainda um novo livro artesanal em que estou trabalhando. A parte textual já está finalizada, estou criando o projeto visual e devo lançá-lo também no primeiro semestre de 2022. O som do pólen derramado possui uma leveza ainda inédita nos livros de poemas anteriores, se debruça sobre o que está por trás das paisagens e ausências cotidianas.
O romance que estou escrevendo ainda não possui título. Trata-se de uma narrativa poética que aprofunda a relação e conflito entre o corpo e a máquina, através de uma personagem feminina e sua relação com o trabalho em uma fábrica.
Vanessa Passos: Para você, qual a importância da leitura?
Yara Fers: A leitura não traz apenas conhecimentos ou informações, como alguns acham. Ela incita a empatia e o senso crítico, transforma os seres humanos em indivíduos mais abertos ao mundo. Evidentemente isso não se dá de forma igual para todos que leem, é um processo desigual. Mas a leitura é a porta aberta para isso.
Vanessa Passos: Qual mensagem você quer deixar para os seus leitores?
Yara Fers: Apoie a literatura contemporânea brasileira, a escrita de mulheres, negros e negras, indígenas, LGBTQIA+, vozes que sempre estiveram à margem do mercado editorial e que atualmente batalham para se fazerem ouvir. Leia, adquira seus livros, divulgue, indique. A literatura é uma rede, composta por quem lê e por quem escreve, criando laços infinitos. Seja parte ativa desta rede.