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MORAL DA HISTÓRIA

 

 

 

“book of dreams” – Jim Holland

Há de ser breve. Brutal. Avassalador. Há de trazer inseguranças para o abrir dos olhos. Olhos que se abrem em novas dores. Dores que sangram violências cardíacas.

Você há de se sentir como uma ruína. Vai se questionar o porquê que nem tudo que desaba vai ao chão. Há de te faltar o riso. Em choros agressivos e indomáveis, o pânico há de lhe tomar o rosto, amassar o peito e cobrir noites mansas de fúrias ferozes e doloridas. Até que a voz da manhã regenere a coragem e o calor do dia te aqueça as certezas bonitas.

Há de haver dança. A melodia certeira há de atravessar suas ruas e lhe entregar o samba nos pés em suores alegres e revoluções. Você há de tocar distâncias. Há de intimidar o tempo ao ver a infância no espelho aos vinte anos. E o tempo, em uma delicadeza selvagem, há de soprar areia nos seus olhos logo depois de beijá-los.

Há de haver silêncios vários. As vezes sorridente, outras atroz. Silêncio que carrega em sua face expressiva lábios sensuais que se movimentam com tamanha elegância que ninguém jamais ousaria transcrever. Silêncio que vira palavra, sabe onde tocar e como arder.

Há um mistério que paira sobre o silêncio: você nunca sabe o sabor do hálito com o qual ele vai te mastigar.

Há de haver fome. De gente, culturas, geografias, palavras. Há de haver mulheres e homens de peles áridas a costurar delícias no corpo das suas emoções. É benquisto o desassossego. É esperada a desordem. E a ordem primeira é a do deleite da memória.

Memórias. Entre ventos, sóis e tempestades: memórias. A vida é um exercício de desempoeirar memórias enquanto se descobre em outras. E a vida, brotando arrepios afrodisíacos, hostis, profundos e cruéis, só há de devolver o fôlego à quem se arrisca a perdê-lo.

Perca a compostura.

 

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