Quase dezesseis anos após sua publicação, o enredo doloroso ainda seduz muitos leitores pelo Brasil afora. Estampado nas vitrines das livrarias brasileiras pela primeira vez em 31 outubro 2005, o livro Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, do autor Marçal Aquino, nos leva aos esconderijos do Brasil, aquele interior talvez ainda não descoberto ou descoberto de forma que não estamos acostumados.
Só pelo título da obra já podemos imaginar o quão poético e íntimo o enredo é. Aquino, em pouco mais de 200 páginas, nos leva para a vida de Cauby, um jovem fotógrafo, apreciador de música clássica, paulistano, no interior do Pará. Lá, esbarra com Lavínia, uma mulher como tantas pelo Brasil, que vem de um lar conturbado e traz intensos embrulhos dentro de si.
A narração mistura passado e presente, entre flashbacks não pontuados, e é capaz de quebrar um coração colocando as vírgulas e os pontos nos lugares certos. A escrita de Aquino conduz a história fictícia de Cauby e Lavínia como poesia ao mesmo tempo que constrói as cenas e os diálogos para sempre ficarmos com aquela dúvida: “Será que existem pessoas assim mesmo?”
Colorida em meio ao cinzento que predominava ao redor. Olhei para o rosto no porta-retrato: tinha uma luz particular, só dela, e um ar de quem poderia ser o que quisesse na vida.
Trecho do livro “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”
O autor Marçal Aquino inclusive demonstra que encontrou no jornalismo uma oportunidade de cessar o desejo pela escrita. “A literatura que eu viria a fazer seria ‘contaminada’ por essa minha atividade como repórter, sobretudo como repórter policial”, expôs em entrevista para a Biblioteca Parque Villa-Lobos. Segundo ele, a “contaminação”, porém, foi intencional, pois era nesse campo que os personagens que interessavam ao autor viviam.
Sabendo deste traço do autor, é possível enxergar os frutos das narrações jornalísticas, sem rodeios, sem desvios. Mas, mesmo tendo essa influência, as obras do escritor sempre trazem um forte tom poético.
Confesso que a linguagem (romântica, crua, poética e minimalista) foi o ponto alto da obra para mim, além de toda a sensação de angústia discreta disposta na trama. Ela prende seja quem for, e a cada página, faz o leitor querer abocanhar o livro por inteiro, mas sem a coragem para terminá-lo.
Você pode encontrar o livro físico e em e-book aqui.
Um comentário
Não conheço a obra, pela amostra deu uma vontade enorme de conhecer.