As Olimpíadas de Tokyo foram encerradas ontem, domingo (08), após duas semanas intensas de competições esportivas. Essa edição dos jogos olímpicos, que deveria ter sido realizada em 2020, foi histórica de inúmeras formas possíveis. Primeiro, porque aconteceu um ano depois da data prevista inicialmente, em virtude da pandemia do coronavírus. Segundo, para o brasileiro, porque trouxe um resgate da nossa identificação com os nossos símbolos nacionais.
Não é segredo que o Brasil tem vivido anos sombrios e de muitas dificuldades, não apenas pelas crises desencadeadas pela Covid-19, mas pela estrutura política que tem desmontado tudo o que foi construído no país ao longo de décadas de lutas por uma sociedade mais igualitária. Em meio ao desmonte, políticos se apropriaram dos nossos elementos de identificação nacional para fazerem jogos políticos. Que elementos? Nossa bandeira, nosso hino, nossas cores…
Particularmente, perdi as contas de quantas vezes pensei “nunca mais vou conseguir usar minha camisa do Brasil, ou sair com as cores verde e amarelo pelas ruas”, o pensamento vinha por um motivo simples e doloroso: atualmente, usar essas cores é sinônimo de apoiar um governo longe do que muitos gostaríamos. E qualquer pessoa com o mínimo de cuidado com o próximo, não quer correr esse risco.
Mas a que ponto chegamos? Além de nos privarem de uma vida digna, liberdade de expressão, acesso à saúde, educação…também tentam nos privar do orgulho de nos apropriarmos dos nossos próprios símbolos de identificação nacional.
Até que os jogos olímpicos chegaram. E para quem gosta de esporte, até aqueles que não acompanham muito, sabe que as Olimpíadas têm algo diferente. Talvez seja aura do espírito olímpico marcado pelos valores da amizade, do respeito, da determinação, da coragem…a prova de que é possível ir além! Ou talvez seja a diversidade, que promove uma maior identificação com o público. Afinal, tem esporte para todos os gostos. Do skate, modalidade estreante em Tokyo, ao vôlei, que já é um queridinho dos jogos.
Nos jogos olímpicos, as nações se encontram e mostram que há muito mais do que competição. Ainda que todos queiram sair com uma medalha no peito, coroando anos de esforço, não falta a alegria em compartilhar a vitória do outro. É um espaço também de resistência, de luta e de protestos, como foi visto na manifestação de atletas do futebol feminino fazendo gestos antirracistas e os esgrimistas estadunidenses que protestaram contra a presença de um colega de equipe acusado de violência sexual.
E para nós, brasileiros, foi também uma oportunidade de unirmos as vozes e torcer pelo nosso povo, mostrando as riquezas que temos em nosso país. Passando por Kelvin Hoefler, skatista que trouxe a primeira medalha para o país, nesta edição, em um esporte que durante anos foi marginalizado, Rayssa Leal, também skatista, que aos 13 anos mostrou, principalmente às meninas, que não existem limites para nossos sonhos, a persistência do nadador Bruno Fratus, o encantamento que Rebeca Andrade trouxe ao som de “Baile de Favela” e todos os outros medalhistas Ítalo Ferreira; Isaquias Queiroz; Martine Grael e Kahena Kunze; Ana Marcela; Abner Teixeira; Hebert Conceição; Beatriz Ferreira; Alison dos Santos; Laura Pigossi e Luisa Stefani; Pedro Barros; Thiago Braz; Fernando Scheffer; Mayra Aguiar; Daniel Cargnin e os atletas da seleção feminina de voleibol e seleção masculina de futebol que nos fizeram torcer e celebrar cada vitória. E também aqueles que não conseguiram medalhas, mas não se tornaram menos vitoriosos por isso. Porque, em um país em que pouco se incentiva e investe no esporte, eles uniram força, garra e determinação para chegar longe.
Em meio aos anos angustiantes, os atletas brasileiros conseguiram trazer de volta o sorriso em nossos rostos, a união da torcida e o brilho nos olhos ao ver a bandeira sendo hasteada ao som do hino nacional, enquanto batíamos no peito junto com eles como forma de dizer “tenho orgulho de ser brasileiro”. Porque, sim, devemos nos orgulhar do nosso povo. Quem deve ter vergonha são os que tentam queimar nossos valores e conquistas.
Por isso, são nas pessoas e nas histórias que encontramos o verdadeiro espírito olímpico. Os atletas nos inspiram, ao nadarem contra a correnteza, e seguem nos mostrando que o esporte transforma. Não apenas de quatro em quatro anos, transforma todos os dias. O esporte dá sentido à vida, possibilita melhoria para famílias e permite que pessoas sonhem em ir além. O esporte é resistência, principalmente no Brasil. É a oportunidade de unirmos nossas vozes e dizermos com orgulho que somos um povo plural, que não desistimos, e apesar dos que tentam minar nossa história, e nossa identidade, seguimos nos levantando mais fortes e vitoriosos.