Não costumo fazer muita questão de me saber por inteiro. Vivo perdida no que sou. Não me entenda mal, não é que eu não pense a minha existência no mundo, como me organizo nela ou as propriedades centrais da minha individualidade. Penso muito. Mas até o dia de hoje, não teve livro de autoajuda, sabedoria filosófica ou astrologia que me brindasse com certezas absolutas sobre quem eu sou.
Confesso já ter perdido o interesse nessa busca. Tenho o hábito de me pensar na relação com o outro, prezando por ter minhas colocações inclinadas sobre o respeito pela individualidade alheia, me permitindo vários significados e assumindo outras tantas excentricidades. Mas, se me perguntam, não sei dizer quem sou. Digo isso sem expressar desordem, confusão ou um lugar de ausência em mim mesma.
Se definir é se colocar em caixas. Caixas são zonas de conforto. Zonas de conforto muito facilmente aceitam fatos como destino, originam certezas e desconsideram a coragem. É comum procurarmos caixas que nos cabem, porque sentimos, no movimento de encontrarmo-nos em rótulos, qualquer coisa perto de segurança. Pensamos precisar disso para escolher uma carreira e construir nossas vidas em bases sólidas e estáveis. Nos cobrimos de certezas sobre nós porque temos medo da verdade do mundo: a incerteza.
Estou em constante movimento e isso me desloca para outras versões de mim com conteúdos que desconheço. Gosto de me desconhecer a cada nova faceta minha que se revela. Gosto de escapar cada vez que suponho me ter sob controle. Gosto das minhas fugas e dos caminhos que elas me abrem. De me descobrir num instante de espanto. Gosto da surpresa, do desprendimento. Da não domesticação de mim mesma. Não me domino. Não posso. Não quero me olhar de cima ou me fechar dentro. Escolho estar ao meu lado.