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Clarice e a música das palavras

   Ter um nome tão forte na literatura é um privilégio para poucos, principalmente sendo a dona desse nome uma mulher judia, com uma percepção totalmente diferente sobre o mundo e suas voltas. Uma autora inigualável, jornalista, romancista e analista. Analista da vida, de suas peculiaridades e marcos. Essa era Clarice Lispector.

   Com 100 anos de influência, Clarice faleceu mas ainda se torna viva por meio de seu principal objeto de trabalho: as palavras. Palavras que passam de um para outro, de uma geração para outra, de um livro para o jornal, de um jornal para um programa televisivo, de um programa para uma peça, de uma peça para uma música. O trabalho da autora é singular, não é todo mundo que a entende de primeira, mas ela consegue ser tão versátil ao ponto de ser utilizada em diversas formas de produção artística.

   A música é uma delas. Clarice é uma fonte de inspiração para músicos de todas as idades. Suas obras são cativantes de tal forma que os fazem querer colocá-las em uma composição, melodia ou apresentação. Maria Bethânia recita seus textos em shows gravados em discos, “Rosa dos Ventos – O show encantado”, de 1971, e “Abraçar e agradecer”, de 2015. A artista tem tanta admiração pela escritora que encenou a peça baseada na obra “A hora da Estrela”, em 1984, um dos livros mais conhecidos de Clarice Lispector.

   A cantora utilizou uma canção composta exclusivamente para a peça, inspirada na personagem Macabéa, protagonista da obra literária. A artista compôs inclusive a canção “Luz da noite”, que é precedida por um texto da autora. A arte atemporal de Clarice fez com que produzissem um musical de teatro baseado no livro, estrelado pela atriz e cantora Laila Garin com composição feita por Chico César. O musical estreou este ano, mas teve que ser interrompido por conta da pandemia.

   A artista Leila Pinheiro utilizou a autora como inspiração em um álbum musical, “Melhor que seja rara”, lançado em outubro deste ano. A cantora se baseou em um texto de Clarice Lispector para compor o som de “Saudade”, feito em 2004. Anos depois de seu falecimento, sua escrita permanece icônica entre tantos autores igualmente famosos.

   As canções produzidas por meio das obras de Clarice não são consideradas “hits” de sucesso, provavelmente por conta da profundidade das reflexões encontradas em seus textos. As músicas que fazem sucesso atualmente são, em sua grande maioria, genéricas, que seguem o senso comum (e Clarice não é nada comum). Um padrão que, quando não é seguido, geralmente não tem muita atenção do público.

   Entretanto, foi por meio das reflexões, que estes artistas musicais tiveram interesse em utilizá-la em suas composições. Esse é o fator que faz de Clarice uma autora tão original, o mundo visto por seus olhos, escrito por suas palavras e interpretado por seus sentimentos, conhecimentos e vivências.

 

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