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Minha Mungubeira é Maior do que o Mundo

 

 

 

Meu avô nasceu na serra, ele é um dos mais novos de uma família de onze irmãos, hoje poucos estão vivos, meu avô está.

No lugar em que meu avô nasceu é só mato, poucas casas, pouco movimento, nenhum clube de festa, imagina na época em que eles viveram lá. Meu avô conta que a animação que eles faziam era debaixo da mungubeira, onde um monte de gente se reunia pra tocar violão, fazer fogueira. Esta árvore meu avô Vicente ajudou o pai dele Francisco a plantar, um menino que naquela época certamente não sonhava em ser avô de uma neta tão bonita. Quando falo isso ele ri, não sei porque.

Muitos anos passaram e quando eu nasci já não existia a casa, já não tinha os bisavós, os tios-avós conheci alguns. A vida leva todo mundo para destinos diferentes, por acaso o do meu avô era ficar.

Faz pouco tempo que o vô teve a ideia de comprar de um dos irmãos um pedaço de terreno, exatamente onde ficava a casa da infância deles. O sonho do meu avô é reerguê-la tal como era, faz tempo que só fala nisso, sonha alto igual criança, esse sonho é de toda a família agora. Mas apesar de toda a mobilização, ainda não tem nenhum tijolo lá, por enquanto é só: terra, mato e a mungubeira intacta, majestosa.

Mesmo sem a casa, todo domingo meu avô vai com minha avó pra lá, às vezes eu os acompanho. Como ainda não tem nada, o pé de monguba é tudo. Minha avó leva o banquinho dela, fica fazendo crochê e perguntando se a gente tá com fome, ela leva biscoito, tapioca, café e água, café sem açúcar quando vou porque uma vez eu reclamei que estava muito doce. Rio por dentro e me sinto boba porque todo café bem açucarado que eu tomo por aí me lembra ela. Minha vó adoça as coisas demais porque ama demais.

Já o seu Vicente arma logo uma rede na mungubeira, capina uns matos, põe-se de cócoras e começa a contar que ali, debaixo daquela sombra, viveu um monte de causos. Lembro de meu vô muito calado, agora meu vô é falador, contador de histórias, tem uma empolgação na fala que derrete qualquer coração. Amo ser plateia dele.

Quando ele me conta, ouço atenta e penso “se uma vírgula dessa história fosse diferente, eu nem estaria aqui”. Meu avô conta do cheiro da casa de farinha que tinha logo ali em frente. Engraçado é que eu nem sei como é uma casa de farinha, mas quando meu vô conta eu vejo e sinto o cheiro dela também. Sinto até saudade. Não é só ele que está retornando às suas raízes, este resgate é meu por tabela.

Em breve meu avô vai voltar pra casa de onde veio e, – nossa! – como é bom viver esse momento aqui e agora, esses dias ele andou tanto na mata que pegou bicho-de-pé e nem conseguiu subir a serra no domingo, estripulia de menino.

 

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