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O uso do Teatro do Oprimido como metodologia de ensino a estudantes

Alunos utilizando a metodologia do Teatro do Oprimido em sala de aula. Foto: reprodução

 

 

 

O Teatro do Oprimido (TO) é uma metodologia desenvolvida pelo teatrólogo Augusto Boal e aplicada até hoje como uma ferramenta de transformação social por meio de um trabalho político, social e artístico. 

Partindo deste conceito que o Elvis Jordan, professor de artes, estruturou um anteprojeto de mestrado tendo como base o uso da metodologia do Teatro do Oprimido em uma turma de nono ano da escola municipal Gustavo Barroso, na cidade de Fortaleza. 

Como prática pedagógica, o objetivo é contribuir para a formação do senso crítico dos estudantes e também a formação de sujeitos. Estruturado em etapas, passando desde oficinas até o processo de escutar os alunos sobre suas percepções a partir das experiências vividas, o projeto visa analisar a importância da aplicação do Teatro Oprimido enquanto prática pedagógica, discutir a formação do estudante de artes e aprofundar as reflexões sobre o ensino de artes na escola pública. 

Apesar de não ter sido aprovado em uma das etapas da seleção do mestrado, Elvis decidiu colocar o projeto em prática no ano de 2020 e viu a necessidade de mudar um pouco a estratégia depois que as aulas passaram para o sistema remoto, em virtude da pandemia da COVID-19. 

O idealizador do projeto compartilha com o Mural Acadêmico sua experiência. 

MURAL DA ANA PAULA: O que fez com que você optasse por trabalhar com a metodologia do Teatro do Oprimido? 

ELVIS JORDAN: A minha escolha pela estética do oprimido se deu principalmente porque é um tipo de teatro que trabalha com essa conscientização do participante, inclusive a gente tem a ideia do espectador, de quem assiste o espetáculo, e o Augusto Boal traz a ideia de espect-atores, que ele não só assiste como pode mudar a realidade da peça que vai ser encenada. É muito nesse lugar de perceber, no contexto escolar e fora dele, quem são os opressores e quem são os oprimidos e o que podemos fazer a respeito disso, para não receber essa opressão sem questionar e sem enxergar. 

MURAL DA ANA PAULA: Como foi/tem sido o envolvimento dos alunos com a metodologia proposta? 

ELVIS JORDAN: Quando as aulas eram presenciais, o envolvimento era super intenso. Eu já vinha trabalhando com os estudantes com essas práticas corporais, era mais fácil quando eu estava ao vivo. Quando começa a ter a pandemia e as aulas remotas, essa participação reduz, até mesmo pelo próprio contexto social, alguns estudantes não tem internet ou não tem como estar acompanhando e a gente acaba tendo um outro tipo de participação. 

MURAL DA ANA PAULA: Como foi feita a adaptação para o contexto das aulas remotas? 

ELVIS JORDAN: Mesmo não sendo aprovado no processo de seleção de mestrado busquei desenvolver práticas relacionadas ao Teatro do Oprimido na Escola Municipal Gustavo Barroso, em 2020. O foco dessa nova configuração de aulas remotas foi a prática de registros escritos denominada de DIÁRIO DE QUARENTENA. Caderno de impressões, sensações e expressão artística e pessoal escrito durante a pandemia, escrito pelos estudantes. 

MURAL DA ANA PAULA: Como você busca estimular os alunos a se relacionarem com a arte?

ELVIS JORDAN: A melhor maneira que eu acredito de estimular o aluno a arte é, primeiramente, entender o que ele já carrega de bagagem, quais são os interesses dele (teatro, dança, música, etc) e a partir das vivências que ele já tem de bagagem cultural eu vou começando a entender e a trocar. Por exemplo, eu tenho uma aluna que é bailarina e ela fala da experiência dela em sala e os que não tem tanta experiência com isso começa a beber disso e a gente vai trocando. Então, inicialmente eu trago essa ideia de conhecê-los, saber o que eles têm enquanto identidade cultural, o que eles gostam de consumir na arte e em seguida a gente começa também a trazer novos conceitos e possibilidades, Eu priorizo também trazer coisas que eles não têm tanto acesso, músicas, bandas, espetáculos que possam agregar a bagagem que eles já tem. Sempre tento dar foco a nossa cultura popular, que muitas vezes não conhecemos, e vou abrangendo para a cultura brasileira e também para a cultura internacional, o que os outros povos estão fazendo de arte. 

 

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